Título: Petróleo nas mãos de Lula atrai o olhar estrangeiro
Autor: Freitas Jr., Osmar ; Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 07/09/2008, Economia, p. E4

Quanto à atual crise americana, ou sua piora futura prevista por analistas mais sombrios, os brasileiros podem esperar abalos domésticos. Mas como lembra o Timothy Alerton, do Instituto Econômico de Nova York, o PIB do Brasil depende apenas em 3% de seu total de exportações para os Estados Unidos. Quanto à captação de investimentos, é bom lembrar que o capital é covarde: vai para onde existe segurança. Os investidores americanos vão seguir esta receita, assim como europeus e árabes. A Abu Dhabi Investment Authority (Adia), fundo soberano dos Emirados Árabes, tem US$ 875 bilhões em reserva. Boa parte deles já destinada ao Brasil. Afinal, o comércio brasileiro com o mundo árabe foi de US$ 9,4 bilhões, só no primeiro semestre de 2008. Mas o que parece ter marcado a retina dos analistas econômicos das empresas financeiras foi mesmo a imagem do presidente Lula empalmando petróleo. ­ Imagine o Brasil produzindo petróleo a todo vapor. Trata-se de um grande aliado americano, com democracia exemplar, vivendo em paz e pronto para fazer negócios. Isso tem o poder de mudar todas as perspectivas geopolíticas que norteiam a diplomacia dos Estados Unidos ­ diz Roger Case, ex-secretário assistente do Departamento de Estado americano do governo Bill Clinton. O restante do mundo também parece achar o mesmo.

Calvário

A crise norte-americana também unifica os consultores brasileiros. Segundo eles, as melhores esperanças são de que o cenário de desaceleração da economia comece a apresentar indícios de mudança no segundo semestre de 2009. Antes disso, a conjuntura americana continuará longe de sua habitual pujança. ­ O cenário mais provável é o calvário, com 80% de probabilidade. Um quadro com crescimento muito fraco nos próximos dois ou três anos, com um presidente que vai ter de adotar medidas duríssimas, se for uma pessoa decidida a ajustar a economia. Terá que reduzir gastos públicos e privados para equilibrar a situação financeira e fiscal e as contas externas. É um desafio proporcional ao PIB do país ­ diz Fábio Silveira, da RC Consultores Para ele, o outro cenário possível, em relação aos americanos, é o do crash, com 20% de chances.