Título: Câmbio tem peso estratégico com descobertas no pré-sal
Autor: Freitas Jr., Osmar ; Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 07/09/2008, Economia, p. E4

No Brasil, as gigantescas pos- sibilidades vindas das reservas de pré-sal fazem os analistas pedirem cautela na definição da agenda pós-2015. Para a maior parte dos consultores ouvidos pelo JB, a principal preocupação é o câmbio, que tem peso estratégico nos planos nacionais. ­ Com o país enriquecendo com o petróleo, no que vai se converter? Um grande importador? O que vai acontecer com o litoral? Vamos ter os Emirados de Macaé, os Emirados de Ubatuba? ­ diz Fábio Silveira, da RCConsultores.Para ele, a questão é definir o futuro do país. ­ No que o Brasil vai se converter? É como se estivesse a caminho de ganhar na loteria em sete, oito anos e ficássemos sonhando com o que faremos com este dinheiro. Vamos viver das riquezas do petróleo? Vamos ter escola? Escola para quê? Para formar engenheiro, e aí a pergunta é engenharia para quê se não vai ter indústria? ­ indaga Fábio Silveira. Para escapar da desindustrialização do país, José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, defende a intervenção oficial na regulagem do câmbio. Segundo ele, é necessário estabelecer uma regra que contemple a rentabilidade mas que atenda certo nível de taxa de câmbio compatível com um mínimo de diversificação econômica do país. ­ Se o Brasil virar um exportador de petróleo, podemos ter uma taxa de câmbio a um nível tão baixo, com sobrevalorização do real, a ponto de inviabilizar outras atividades que não estejam ligadas a esta cadeia produtiva ­ diz Gonçalves Além da intervenção no câmbio, o planejamento de longo prazo é uma imposição diante dos desafios do pré-sal. ­ É a nossa lição de casa do presente: fazer um planejamento. Não temos tradição nisto com democracia. O país deveria começar a pensar como países desenvolvidos e multinacionais fazem, planejando os próximos 20 anos ­ diz Silveira. No longo prazo, para o especialista, o país tem três pilares para o crescimento: processo de interiorização da renda em marcha (capiteneado pelo agronegócio), mão-de-obra de 80 milhões de jovens chegando ao mercado entre 2000 e 2020 e urbanização consolidada nas cidades de médio porte. Neste cenário de duas décadas, devem surgir novos desafios para os quais os recursos do pré-sal seriam decisivos.

O dinheiro deveria ser guar- dado para fazer frente ao problema estrutural da previdência. Hoje a situação previdenciária é positiva por conta do crescimento forte, mas em duas décadas a entrada de recursos vai diminuir ­ diz Sérgio Valle, economista-chefe da MB Associados. Para ele, é preciso reavaliar o discurso que tenta captar os recursos do petróleo para a educação. ­ É mais uma tentativa de desperdiçar dinheiro público, porque até agora o que se fez com os recursos destinados à educação? Se há um buraco, ele deve ser resolvido em vez de tentar carrear mais verbas para a educação.