Título: Brasil, um oásis de entusiasmo num mar de incertezas
Autor: Freitas Jr., Osmar ; Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 07/09/2008, Economia, p. E4

Analistas brasileiros e estrangeiros são unânimes em atribuir ao país posição privilegiada como um porto seguro para investimentos.

O óleo que sujou as mãos do presidente Lula, terça-feira, saiu barato. Comparado, é claro, com o preço do petróleo na Bolsa de Nova York nos últimos quatro meses. O barril seria cotado naquele dia a "meros" US$105. Ao mesmo tempo que isso acontecia, o dólar subia 1,15%, no mercado brasileiro (para R$ 1,665), a Bovespa tinha pregão em queda (com depreciação no ano de 14,84%, naquele momento), e as commodities, principalmente metálicas, também entravam em baixa. Era de se esperar arrepios entre os analistas econômicos americanos. Mas isso não ocorreu. O entusiasmo estrangeiro com o Brasil seguiu com intensidade mais apropriadas às torcidas organizadas. Por aqui, consultores econômicos nacionais compartilham o mesmo entusiasmo, somado à ansiedade a respeito das descobertas e possibilidades que estão a 7 mil metros de profundidade, no pré-sal. ­ A Bovespa é mais dependente de companhias de commodities. Qualquer alteração nos preços causa tremores ­ diz Nicholas Norse, chefe de equities do banco britânico de investimentos Schrodes. ­ Mesmo assim, a Bovespa está com índice 10% maior do que no mesmo período do ano passado. Apesar das perdas deste ano que, lembre-se, tem sido de crise dura. Otimismo nas palavras é commodity barata, o real valor da confiança no Brasil deve ser medido pelos níveis de investimentos. É o que fez, no começo de agosto, a instituição financeira Lehman Brothers, ao anunciar a contratação de toda a equipe de profissionais do Grupo brasileiro Rio Bravo. ­ A contratação do time do banco de investimentos Rio Bravo ressalta nosso compromisso de expansão e reforça nossa capacidade no Brasil. É também prova de nossa confiança na economia brasileira ­ diz Joseph Gatto, chefe da divisão de finança corporativa global do Lehman. A empresa não é a única que vê com bons olhos os negócios no país. O CitiCorp tem enxugado ao máximo suas operações ­ inclusive encolhendo bastante a atuação no setor de cartões de crédito ­ devido ao baque sofrido com a crise hipotecárias americana. Mesmo assim, também aumenta suas tropas no mercado financeiro brasileiro.

China

Mas e a baixa dos preços de commodities? E o dólar? ­ A China continuará sendo fator crítico para a expansão dos países emergentes. Vai seguir exigindo fluxo de commodities para acomodar sua economia ­ aposta Joyce Chang, diretora-gerente do Grupo de Pesquisas de Mercados Emergentes do banco JPMorgan/Chase. ­ Nós acreditamos que o PIB da China deverá desacelerar apenas modestamente, devido à recessão nos Estados Unidos. Mas mesmo que o crescimento chinês caia para níveis de dois dígitos baixos, ou um dígito alto, como aquele visto em 2001, o governo de Pequim irá reagir com duras medidas fiscais. As necessidades para a produção vão manter as demanda por commodities. Para os analistas do JPMorgan, e de outras 10 instituições ouvidas pelo JB, a elevação do câmbio servirá para aumentar as exportações, tanto das chamadas soft commodities ­ soja, café, açucar, etc. ­ como de manufaturados.

Juros

­ Note que produção in- dustrial cresceu acima do previsto em julho ­ diz Howard Moreau, analista do CitiCorp. ­ O setor deve sofrer os efeitos do aumento das taxas de juros, que já ocorreram e ainda devem aumentar mais na semana que vem. No entanto, estes dados da indústria são indicativos do explosivo potencial da economia brasileira. Uma das alavancas para o crescimento verificado neste período se deve ao setor de construção civil. Além, é claro, da alta de captação de investimentos. O câmbio vai ajudar na expansão da indústria. Veja o pequeno crescimento, 0,3%, que os Estados Unidos tiveram com a baixa de sua moeda e aumento das exportações ­ diz Moreau.

No que tange ao crescimen- to da construção civil e de manufaturados, os analistas consultados pelo JB são unanimes em puxar do colete a chamada teoria do decoupling (ou, numa tradução livre: descolamento). Trata-se da tese queridinha do economês. Ela anuncia que os países emergentes estão cada vez menos dependentes de países industrializados. Apontam-se os mercados domésticos como grandes motores dos crescimentos de China, é claro, Rússia, Índia e do Brasil. E tome exemplos anedóticos: ­ O Brasil transformou-se no quinto maior mercado de cosméticos do mundo, com potencial de subir para terceiro em 2010 ­ diz Corry Taylor, analista econômica da Associação dos Produtores de Cosméticos dos Estados Unidos. Ou, em tom mais sério: ­ Em 2040 o Brasil terá economia que vai superar a do Reino Unido ­ aposta Jim O"Neil, do banco de investimentos Goldman Sachs, e o criador da sigla Bric ­ referente ao Brasil, Rússia, Índia e China, como maiores potências emergentes. ­ O estrondoso crescimento da classe média brasileira visto nos últimos anos, só reforça esta teoria do descolamento do país diante das nações industrializados tradicionais.