Título: Deputados rejeitam aumento
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2005, País, p. A3

Chamados de demagogos pelo presidente da Câmara, parlamentares de diversos partidos se mobilizam contra reajuste

Apesar de o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), ter acusado de demagogos os colegas que são contra o reajuste salarial dos deputados, vários partidos políticos começam a se mobilizar para tentar derrubar o projeto em plenário. No Rio, o deputado Chico Alencar (PT-RJ) promete iniciar hoje um campanha popular para que a sociedade opine sobre o aumento. O deputado Medeiros (PL-SP) avisou que fará o mesmo em São Paulo. Parlamentares tucanos, petistas e do PPS já anunciaram que vão votar contra o reajuste do salário para R$ 21.500.

- É uma situação que coloca o Parlamento em xeque perante a sociedade - resumiu o líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA).

Severino voltou a atacar ontem os críticos à proposta de turbinar os salários do Legislativo. O presidente da Câmara afirmou que os partidos que anunciam o voto contrário estão ''fazendo apenas demagogia''. E ironizou a possibilidade de a proposta ser rejeitada quando entrar na pauta do dia:

- Eles estão doidos por este aumento. Não vai perder (em plenário), tenho certeza, porque demagogos há poucos aqui na Câmara.

Severino também descartou a possibilidade de o Senado rejeitar a matéria, o que tornaria inviável a proposta. Disse não se importar com a posição do Senado, já que sua responsabilidade é com a Câmara.

- Quem está na chefia do Poder Executivo (sic) é Severino Cavalcanti e, portanto, eu irei botar esta matéria para votar - declarou, em um ato falho.

As palavras agressivas do presidente da Câmara provocaram reações no mesmo tom dos deputados. Inclusive no PSDB, um dos responsáveis pela eleição do pernambucano.

- Ele deveria ser mais cuidadoso, ter mais responsabilidade nas declarações como presidente da Câmara - devolveu o líder tucano Alberto Goldman (SP).

Para o petista Paulo Rocha, Severino deveria se comportar como um magistrado para comandar discussões sobre temas tão polêmicos como este.

Chico Alencar promete uma manifestação no Centro do Rio a partir do meio-dia de hoje. Serão postas mesas na esquina das avenidas Rio Branco e Nilo Peçanha, com o slogan ''Severino diz que a população apóia o aumento: confirme ou não aqui''. O petista espera que as pessoas se manifestem pelos e-mails dos parlamentares, pela Ouvidoria da Câmara ou pelo 0800-619619.

- Tenho esperança de que a sociedade barre este exagero - conclamou.

Medeiros foi à tribuna traçar um paralelo entre os 67% de reajuste previsto no salário dos deputados e os aumentos concedidos para as demais categorias profissionais. Lembrou que nos dois últimos anos os reajustes salariais de todos os setores variaram entre 10% e 15%, pouco acima da inflação no período. Apesar de reconhecer que a Constituição deixa brechas para a equivalência salarial entre parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal, o deputado do PL considera a proposta da Mesa Diretora imoral:

- É um insanidade, estamos dando as costas para o povo, concedendo para nós um aumento maior do que o dado a nossas bases eleitorais.

Líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (BA) diz estar tranqüilo, já que, durante a campanha para a presidência da Câmara, sempre sustentou que este tema não deveria ser discutido neste momento. Segundo Aleluia, quem deveria estar numa saia justa era o PT, não Severino.

- O candidato deles, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), também prometeu que daria o aumento, caso fosse eleito. Não venha o PT agora fechar questão contra o reajuste - cobrou o pefelista.

Enquanto isso, a Mesa do Senado anunciou ontem que fará um corte de gastos de R$ 10 milhões. O presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), não quis dizer se era uma preparação para a votação do reajuste salarial dos parlamentares.

- Este assunto não está posto neste momento. Quando ele chegar ao Senado, vou colocá-lo em discussão - desconversou.