Correio Braziliense, n. 22640, 16/03/2025. Política, p. 4
Desafios para o futuro
Raphael Pati
Eduarda Esposito
Maiara Marinho
Apesar de já transcorridas quatro décadas da posse de José Sarney como presidente da República, que consolidou a volta de um regime democrático no país, o Brasil ainda tem dívidas a pagar para com a democracia, é o que pensa o ex-governador do Distrito Federal e ex-senador Cristovam Buarque, que participou ontem do evento Democracia 40 anos: conquistas, dívidas e desafios. O seminário suprapartidário foi organizado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e pelo partido Cidadania, e contou com o apoio do Correio.
Entre as "dívidas" citadas pelo ex-governador, ainda está o nível alto de corrupção, alinhado ao alto nível de corporativismo estatal. "O Brasil é profundamente dividido em corporações. Temos 90 milhões de processos jurídicos atualmente, e isso é fruto de um corporativismo", considerou.
Também mencionou a questão do Bolsa Família, criado durante o primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e que, segundo Cristovam, deveria ter um prazo para terminar. "Ainda não temos uma estratégia para diminuir a pobreza do Brasil. Não temos uma estratégia para dizer que daqui a 20 anos vamos acabar com o Bolsa Família no Brasil", acrescentou o político.
Diante disso, o ex-governador concluiu a exposição durante o evento levantando uma reflexão sobre a importância da educação básica no país, que, segundo ele, vem sendo relativizada nos últimos anos. Acrescentou que o futuro do planeta depende, principalmente, das novas gerações. "A solução para o equilíbrio ecológico está nas crianças, que precisam de um grande programa de conscientização ecológica. Criar um grande programa de educação, com toda a escola, para a preocupação do equilíbrio ecológico, da sustentabilidade", frisou.
Defesa democrática
Na abertura do evento, o ex-deputado e presidente do Cidadania, Comte Bittencourt, afirmou que o encontro tem a importância de relembrar um momento histórico com a posse de José Sarney como presidente, após a morte de Tancredo Neves. "Portanto, decidimos registrar esses 40 anos da redemocratização brasileira com a posse novamente de um presidente civil", afirmou o ex-deputado.
Bittencourt exaltou o papel do ex-presidente José Sarney no processo da redemocratização e de garantir uma nova Carta Magna. "Todos esses constituintes devolveram ao Brasil, com a posse (Sarney), aquilo que é mais caro para o cidadão: a sua liberdade, os seus direitos civis, seu direito de exercer plenamente a sua cidadania", disse.
O ex-deputado também não deixou de lembrar do filme Ainda estou aqui, de Walter Salles, e fez uma conexão com a história recente e passada do país. "E não é apenas Ainda estou aqui que o Brasil comemora, belo filme de Walter Salles, todos nós ainda estamos aqui, em defesa da democracia, das instituições, em defesa da cidadania", concluiu.
O presidente do Correio Braziliense, Guilherme Machado, também exaltou a coragem de José Sarney e Tancredo Neves ao lutarem pela retomada da democracia no país. "Estamos aqui para celebrar os 40 anos da redemocratização do Brasil, para homenagear todos aqueles que trabalharam incessantemente para encerrar um regime de autoritarismo e retomar a constituição de um país mais moderno, mais inclusivo, mais tolerante, mais democrático", destacou.
Machado também relembrou o triste episódio de 8 de janeiro de 2023, no qual considerou "um dos episódios mais sombrios da nossa história". "Com paus, pedras e bombas, agrediram violentamente os símbolos que representam o Estado Democrático de Direito. Como cidadão brasileiro, espero, sinceramente, que aquelas cenas nunca mais se repitam na capital da República ou em qualquer unidade do país", disse.
Papel da imprensa
O jornalista Luiz Carlos Azedo, colunista do Correio, destacou que o papel da imprensa foi resgatado nos tempos atuais, devido às complexidades das novas tecnologias e o uso de inteligência artificial para produção de notícias falsas. "Hoje qualquer cidadão com um celular registra acontecimentos importantes em tempo real, ao mesmo tempo que é um resultado da democratização do acesso à tecnologia e informação", levantou.
“Mas também é capaz de produzir informações nas redes sociais como se tivessem existido, é um elemento que coloca em xeque as relações pessoais e as instituições e resgata o papel da imprensa na democracia para filtrar o que é ou não verdade”, acrescentou o jornalista. Para Azedo, a sociedade brasileira vive uma guerra na informação, e isso é um ingrediente novo na democracia. “Alguma coisa precisa ser feita para evitar que isso nos leve nas águas turbulentas da crise institucional”, destacou.
Exposição segue até dia 23
o Correio promove a exposição fotográfica A Festa da Democracia, com 22 imagens que retratam a transição democrática. a mostra continua em exibição até 23 de março, das 9h às 16h, no panteão, no primeiro pavimento.