Título: Novos índices, velhos problemas
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 09/09/2008, País, p. A11

Situação geral melhora, mas discriminação e número de desempregados ainda preocupam

BRASÍLIA

O Brasil apresentou nos últimos anos melhora considerável na maioria dos indicadores do mercado de trabalho. Ainda assim, persistem elevadas taxas de desemprego e informalidade, baixo grau de proteção social e rendimento e um nível significativo de discriminação em relação às mulheres e à população negra. É o que mostra o relatório Emprego, desenvolvimento humano e trabalho decente: a experiência brasileira recente, elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

¿ Se compararmos a situação de 2006 com a de 1992, houve melhoria em quase todos os indicadores, mas persistem déficits de trabalho decente. ¿ diz Laís Abramo, diretora do escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil. ¿ O que chama a atenção é a grande diferença das taxas de desemprego em termos de gênero e raça. O desemprego continua sendo feminino, negro, jovem e urbano.

É grande a desvantagem de mulheres, negros e jovens no mercado de trabalho. As taxas de desemprego recuaram entre 2003 e 2006 mais para os homens (19% para os brancos e 17% para os negros) do que para as mulheres (12% para as brancas, 9% para as negras). A cor da pele e o gênero influem, também, na renda salarial. Os homens negros recebiam, em 2006, 73,9% da remuneração dos homens brancos; as mulheres brancas 56,2% e as negras 41,4%.

A informalidade atinge 42,8% dos homens brancos e 47,4% dos negros trabalhadores. Entre mulheres, o índice é de 51,8% para brancas e 62,7% para negras.

Jovens

Os jovens continuam a ser o grupo com mais dificuldade de conseguir emprego. Recebem menores salários, mesmo com escolaridade elevada. A faixa entre 16 e 24 anos é a mais afetada, na qual a quantidade de jovens que não estudam nem trabalham é preocupante. São 6,3 milhões de brasileiros nessa situação. "Embora a escolaridade média tenha crescido entre a população juvenil, a inserção no mercado de trabalho daqueles que querem ou precisam se deteriorou", diz o estudo, ressaltando que o combate às desigualdades depende do crescimento econômico, mas não totalmente.

¿ A economia brasileira mostrou, nas últimas décadas, que períodos de crescimento notável da produção podem gerar sociedades injustas, com elevada concentração da riqueza ¿ disse Kim Bolduc, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Pontos positivos

Um dos aspectos mais positivos constatados pelo estudo diz respeito à queda da informalidade. De 1993 a 1999, o emprego informal cresceu mais que o formal, mas essa tendência se inverteu no período de 2000 a 2006.

A maior valorização da escolaridade nos processos de contratação é uma característica importante da revolução recente do mercado de trabalho brasileiro. Entre 1992 e 2006, caiu consideravelmente a taxa de participação dos indivíduos que têm até quatro anos de estudo e cresceu a presença dos que têm entre nove e 11 anos de instrução.

A inserção precoce no mercado de trabalho prejudica diretamente os estudos das crianças brasileiras.

¿ O senso comum diz que é bom para a criança aprender a trabalhar cedo. É um erro ¿ garante Laís. ¿ A média salarial de um adulto que começou a trabalhar antes dos 14 anos é de R$ 1 mil. Já a criança que começou antes dos nove, ganhará R$ 500.