Título: Delfim: luta por poder faz juro subir
Autor: Monteiro, Viviane
Fonte: Jornal do Brasil, 09/09/2008, Economia, p. A16

Ex-ministro acha que BC elevará Selic em 0,75 ponto para demonstrar força sobre a Fazenda.

BRASÍLIA

Diante do ministro Guido Mantega e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, Delfim Netto enxergou uma queda-de-braço pela primazia na condução da política econômica do governo. Ex-ministro da Fazenda e consultor da equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Delfim disse que existe uma forte disputa entre as duas instituições por poder. A autoridade monetária vem adotando uma política fiscal austera para controlar a inflação, desde abril. Isso vem na contramão da postura do Ministério da Fazenda que quer garantir o crescimento econômico sem juros elevados.

¿ O Banco Central é autônomo. Há um cabo-de-guerra entre o Ministério da Fazenda e Banco Central e para reafirmar que é independente o Banco Central vai elevar o juro em 0,75 ponto percentual (na reunião do Copom) ¿ avaliou o ex-ministro, antes de participar do seminário sobre os 200 anos do Ministério da Fazenda, em Brasília. ¿ Desde abril, a autoridade vem elevando os juros, será uma grande surpresa se o Banco Central não elevar o juro em 0,75 ponto percentual.

Sem querer opinar sobre a inflação, o ex-ministro da Fazenda assegura que há uma inflação mundial. Mas, em relação ao mercado interno, disse: "Há dúvida se há excesso de demanda".

Luiz Carlos Bresser Pereira, também ex-ministro da Fazenda, criticou os juros elevados, porque deprecia a taxa de câmbio.

¿ Essa taxa de câmbio é incompatível com o longo prazo.

Para ele, a taxa compatível com o crescimento econômico tem que ser de R$ 2,50. Para equilibrar a taxa de cambio, disse Bresser, é preciso reduzir a taxa de juros.

Desenvolvimento

Na semana em que serão conhecidos dois importantes indicadores da economia, o PIB (Produto Interno Bruto) e a nova taxa básica de juros, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o crescimento da economia é "robusto", mas não gera pressões inflacionárias.

Mantega afirmou que o país cresce a taxas acima de 4% e de até 5% ao ano, "como está ocorrendo nos dias de hoje". Disse também que a taxa de investimento, importante fator para que não haja aumento da demanda acima da oferta, cresce a mais de 15% ao ano.

¿ É um país dinâmico, que tem a oferta crescendo acompanhando a demanda, portanto, não gera pressões inflacionárias. Esta robustez do Brasil nos deu o reconhecimento internacional ¿ afirmou.

Amanhã, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) se reúne para avaliar um novo aumento dos juros, que devem subir de 13% para 13,75% ao ano, segundo previsões do mercado financeiro. Uma das principais preocupações do BC é o aumento forte da demanda em relação à oferta, o que pode pressionar a inflação.

No mesmo dia, mais cedo, o IBGE divulga os números do PIB, que devem mostrar forte crescimento do país, apoiado no aumento da demanda.

Em relação ao PIB, o ministro afirmou várias vezes que os resultados são "robustos" e que o país deixou para trás "aquele crescimento modesto das décadas anteriores".

¿ O Brasil deixou de ser um país do presente e do passado para ser um país do futuro. O Brasil hoje tem um horizonte de longo prazo e, com essas condições que foram criadas, nós poderemos ter esse crescimento sustentável se repetindo ao longo de muitos e muitos anos ¿ disse, durante a cerimônia de descerramento da placa comemorativa dos 200 anos do Ministério da Fazenda, realizada na sede do ministério, em Brasília.