Título: Ajuda dos EUA é fim do neoliberalismo, dizem analistas
Autor: Monteiro, Viviane
Fonte: Jornal do Brasil, 09/09/2008, Economia, p. A17

Intervenção americana em bancos é sintomática, acham brasileiros.

BRASÍLIA

A intervenção do governo dos Estados Unidos às empresas de hipotecas Freddie Mac e Fannie Mae marca o fim do sistema neoliberal, conhecido como Estado mínimo na economia. Essa é a visão de ministros e ex-ministros brasileiros que participaram ontem do seminário 200 anos do Ministério da Fazenda. A ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, é até mais contundente na afirmação. Para ela, a idéia de que o Estado deveria intervir menos na economia nunca foi aplicada em economias desenvolvidas, principalmente nos Estados Unidos, onde o sistema surgiu.

¿ Em momento algum os Estados nacionais de países desenvolvidos foram enfraquecidos. A história do neoliberalismo só valia para nós. No mundo capitalista desenvolvido jamais houve liberalismo ¿ disse a ministra, que participou do seminário 200 anos do Ministério da Fazenda, em Brasília.

Para o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira, a crise que se apresenta nos países desenvolvidos é semelhante a dos anos 1930, iniciada em 1929 com a queda da Bolsa de Nova.

¿ Ela seria mais profunda se o governo não viesse intervindo ¿ disse. ¿ Essa crise marca o fim da onda neoliberal e marca a necessidade que a sociedade está encontrando de renovar o papel do Estado. O socorro é a demonstração dos fracassos de um mecanismo puramente do setor financeiro; o setor financeiro, que virou o arauto do neoliberalismo, é quem está precisando de socorro do Estado.

Bresser defendeu uma complementação entre a intervenção do mercado financeiro e do Estado na economia. Disse também que a situação seria pior caso não houvesse uma intervenção mais forte do banco central dos EUA na economia do país nesse momento.

Brasil elogia decisão

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a intervenção do governo americano às empresas é positivo porque evita que a crise se expanda para empresas e bancos estrangeiros que investiram nessas companhias que movimentam US$ 13 trilhões.

¿ O apoio procurou evitar um problema sistêmico, de que a crise seja de cinco graus na escala de richter e evite a ir a sete graus da escala de richter ¿ comparou.

Delfim Neto, também ex-ministro da Fazenda, afirmou que não existe desenvolvimento econômico sem a intervenção do Estado.

¿ O Estado indutor é um instrumento que mobiliza o setor privado ¿ declarou.

"Enterro do liberalismo"

Defensora da intervenção do Estado máximo na economia, a ministra Dilma afirmou, durante a palestra no seminário, que a criação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é um programa que permite resgatar o planejamento do Estado.

¿ O PAC é o primeiro degrau para os próximos anos que pode garantir o crescimento sustentável do país ¿ declarou.

A economista Maria da Conceição Tavares foi na mesma linha. Disse que a intervenção do governo dos EUA representa o "enterro do neoliberalismo".

¿ É fantástico o país mais liberal do mundo ter de estatizar. É o enterro do neoliberalismo de uma maneira trágica ¿ afirmou Maria da Conceição.

A economista comparou a operação ao Proer, programa de socorro a instituições financeiras realizado no primeiro governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.

¿ Custou uma fortuna ¿ afirmou, em relação à intervenção dos EUA. ¿ O nosso Proer foi mais baratinho.