Título: Severino recebe o ''baderneiro''
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Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2005, País, p. A3
Um encontro de cerca de 15 minutos terminou ontem com promessas de colaboração entre um dos mais conhecidos movimentos sociais do país, o MST, e Severino Cavalcanti (PP-PE), presidente da Câmara, conhecido por suas opiniões conservadoras.
O inusitado encontro, com direito a sorrisos e pose para fotos, ocorreu uma semana depois de a União Democrática Ruralista (UDR), arquiinimiga do MST, visitar a Presidência da Câmara, sem ser recebida por Severino, que mandou um representante.
Além disso, há apenas 10 dias, após vencer as eleições para a Presidência da casa, Severino garantiu que não receberia os sem-terra, chamando o MST de ''movimento da baderna''.
Independente disso, João Pedro Stédile, considerado o ideólogo do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pediu a Severino sua ajuda para alguns projetos e ações de interesse do movimento, que adota como estratégia principal a invasão de terras, produtivas ou improdutivas.
Especificamente, Stédile citou dois: a aprovação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que desapropria terras em que existe trabalho escravo e a rejeição da Lei de Biossegurança, em tramitação na Câmara.
- Viemos aqui pedir seu apoio, porque o clima de consternação no campo, especialmente após o assassinato da freira Dorothy Stang, no Pará, é grande e requer a união de diversas entidades - disse Stédile.
Para ele, a aprovação da PEC do trabalho escravo enviaria um sinal a um setor ''truculento, apesar de minoritário'' dos fazendeiros.
Com relação à Lei de Biossegurança, o MST e Severino mantêm uma aliança tática. Os sem-terra se opõem à parte que libera o plantio e comercialização de alimentos transgênicos, enquanto o presidente da Câmara, católico, é contra a permissão de realizar pesquisas com células-tronco.
Severino, que deixou Stédile esperando por cerca de 45 minutos para ser atendido, reconheceu a importância de movimentos sociais como o MST:
- Fiquem tranqüilos que não terei idéia fixa de criar empecilhos à atuação do movimento.
Ele prometeu colocar os projetos em votação rapidamente, mas não se comprometeu com nenhuma posição.
Stédile, por sua vez, disse que a visita foi ''normal''.
- Somos um movimento social que conversa com todos, não somos um partido que busca aliados - explicou.
Antes, o líder sem-terra havia visitado o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Stédile afirmou que a lentidão do governo na realização da reforma agrária incentiva a violência e a impunidade no campo, e também culpou o agronegócio pela ocorrência de conflitos sociais.
- Na medida em que o governo impôs um ritmo muito lento para a reforma agrária, a leitura que os fazendeiros mais truculentos fazem é que se o governo não está se mexendo eu posso fazer o que eu quero. De certa forma a lentidão do governo estimula a impunidade - afirmou.
Stédile vai amanhã de manhã ao Palácio do Planalto apresentar propostas a ministros para acelerar o processo de assentamentos, mas não quis especificar com quem se reunirá.
O coordenador do MST pediu também a Renan urgência para a tramitação da PEC do trabalho escravo. O presidente do Senado disse que vai se empenhar na aprovação de projetos relacionados à reforma agrária em tramitação na Casa.