Título: Papa piora e é operado de urgência
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2005, Internacional, p. A7

Crises de insuficiência respiratória forçaram volta do Santo Padre ao hospital Gemelli, em Roma

AFP Mulher (acima) faz vigília diante do hospital Gemelli, onde o papa foi internado ontem

ROMA - Duas semanas depois de receber alta, o papa João Paulo II voltou a ser internado ontem no hospital Gemelli, em Roma, onde foi submetido a uma traqueostomia, para facilitar a passagem de ar e evitar novas crises respiratórias. Segundo o Vaticano, na tarde de quarta-feira teve uma recaída, com febre, da forte gripe que levou à primeira internação, durante 10 dias. A intervenção cirúrgica, com anestesia geral, foi rápida e bem-sucedida, durou 30 minutos e o pontífice foi levado para o quarto, onde passou a noite, afirmou o porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls. ¿ Uma traqueostomia implica em sérios riscos de infecção e nem sempre é indicada, porque ao se abrir um orifício na garganta, perde-se um filtro importante de ar ¿ advertiu o pneumologista italiano Giovanni D'Urso.

Uma fonte eclesiástica, que pediu anonimato, revelou ao jornal romano La Repubblica que a situação do pontífice, de 84 anos, era ¿séria¿. No leito do hospital, o papa respira com ajuda de aparelhos. Durante todo o dia, a Santa Sé se negou a divulgar um boletim médico oficial sobre a saúde do líder.

O Vaticano não menciona, por enquanto, uma eventual renúncia do papa. Mas ontem o próprio João Paulo II encarregou o cardeal chileno Jorge Arturo Medina Estevez de anunciar ao mundo que a Igreja Católica tem um novo líder, em caso de Conclave, a assembléia de cardeais para a escolha de um próximo pontífice.

Testemunhas que acompanharam o traslado do Vaticano para a policlínica, às 11h30, contaram que João Paulo II estava consciente e parecia relaxado. Ele foi transportado em uma ambulância sem emblemas e permaneceu sentado na maca, mas com um cobertor nas pernas para se proteger do frio. No hospital, foi atendido pelo doutor Rodolfo Proietti, diretor da emergência.

Em torno do prédio foram reforçadas as medidas de segurança. Como parte do dispositivo, está proibido o acesso ao 10º andar, onde fica o quarto permanentemente reservado para o papa. A área é apelidada de ¿Vaticano 3¿, residência de João Paulo II depois do palácio apostólico e da casa de verão de Castelgandolfo, perto de Roma.

Até hoje, o papa foi internado nove vezes no hospital Gemelli, onde permaneceu 159 dias, e foi submetido a quatro cirurgias ¿ inclusive as de retirada de bala, depois do atentado a tiros sofrido em 1981.

A mais recente série de complicações de saúde de João Paulo II começou em 1º de fevereiro, com um quadro de laringotraqueíte aguda (inflamação da laringe e da traquéia), seguida de espasmos, que causam dificuldade de respirar. Mas o temor dos médicos é que a complicação não seja decorrente de uma gripe forte, como alega a Santa Sé, mas de uma intensificação do mal de Parkinson.

Entretanto, mesmo que se trate de uma recaída viral, o quadro mostra que nem o repouso e a redução dos compromissos de trabalho estão sendo eficazes. Na quarta-feira, quando os termômetros em Roma registraram máxima de 8ºC, o médico particular do papa pediu que não desse a audiência geral semanal na Praça de São Pedro, para não se expor à baixa temperatura. Por meio de videoconferência, ele desejou aos peregrinos que ¿o amor triunfe sobre o egoísmo¿. Ainda que tenha se resguardado, horas mais tarde voltou a se sentir mal, segundo Navarro-Valls.

Na manhã de ontem, o pontífice deveria ter presidido o Consistório para a canonização dos beatos. Pela primeira vez em 26 anos de papado, teve que ser substituído, pelo cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado do Vaticano, que leu um pequeno texto escrito por João Paulo II.

Ao redor do mundo, católicos pararam para rezar pela saúde do pontífice logo que souberam da operação.

Em Wadowice, a pequena cidade no Sul da Polônia onde João Paulo II nasceu, foi realizada durante a tarde uma missa especial na igreja de Santa Maria, onde o papa foi batizado.

¿ Seu sofrimento realmente me emociona. Está tudo nas mãos de Deus agora ¿ disse à agência Associated Press Zdzislaw Szczur, 54 anos, ex-ativista do Solidariedade, movimento que se inspirou na luta do Santo Padre contra o comunismo.

Em Varsóvia, um buquê de tulipas amarelas foi colocado na base da estátua na qual o papa segura um crucifixo.

¿ Para mim isto é muito pessoal. Meu marido e eu o conhecemos quando éramos estudantes. Ele nos casou, batizou nossos filhos. Era uma pessoa muito próxima. Estou com medo ¿ disse Jozefa Hennelowa, colunista do semanário católico liberal Tygodnik Powszechny, para o qual o papa escreveu quando era padre e bispo no país.

Em Londres, o pontífice foi o centro das orações na missa da igreja Santa Etheldreda.

Já em Detroit, nos EUA, o cardeal polaco-americano Adam Maida, amigo do papa, fez uma prece especial:

¿ Pai de toda a vida, pedimos sua benção especial e proteção ao nosso Pai Sagrado na Terra.