Título: Cirurgia é simples mas idade avançada preocupa
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2005, País, p. A8

A cirurgia a que foi submetido o papa João Paulo II ontem, uma traqueostomia, é considerada um procedimento simples, entretanto os médicos temem pela fragilidade de sua saúde diante da idade avançada do pontífice, 84 anos.

- Ele possivelmente sobreviverá a isso, mas certamente terá uma recuperação prolongada. Ficará muito debilitado e perderá parte da condição física. Com a cirurgia, só se consegue falar com grande dificuldade - explica a geriatra americana Barbara Paris, chefe de divisão do Centro Médico Maimonides, de Nova York.

A operação consiste em um corte na traquéia por onde entra um pequeno tubo para facilitar o acesso do ar aos pulmões, diminuindo assim o caminho que o oxigênio tem que percorrer para chegar ao órgão. Depois, geralmente se coloca um respirador artificial. Outra opção é deixar o tubo exposto diretamente ao oxigênio do ambiente. A incisão é vertical e mediana na altura dos primeiros anéis da traquéia, abaixo das cordas vocais e do Pomo de Adão.

- O procedimento em si é simples, não apresenta muitos riscos, e não deixa seqüelas. Mas em uma pessoa com a idade dele e com a saúde enfraquecida como estava, qualquer recaída pode ser grave - afirma, ao JB, Carlos Scherr médico e diretor do hospital Souza Aguiar.

A gripe fragiliza ainda mais o estado de saúde já precário do paciente, afirmam especialistas. Uma pessoa de idade avançada, associada a uma ou várias patologias está exposta, particularmente, às complicações da gripe, como uma infecção bacteriana.

A operação dura em média de 15 a 40 minutos e é realizada com anestesia local, mais comum, ou geral. O tubo colocado também serve como um canal da onde se pode aspirar as secreções dos brônquios do paciente.

No caso do papa, a traqueostomia foi realizada devido a uma crise respiratória, que causa uma obstrução das vias aéreas superiores. O pontífice também estava com dificuldade de expectoração.

- Provavelmente o papa teve uma reação inflamatória que provoca inchaço, dor, vermelhidão e difulta a passagem do ar. Não se sabe, mas deve ter sido uma operação de urgência.

Posteriormente, quando o paciente estiver em condições, o tubo pode ser retirado e, de acordo com médicos, o papa pode voltar a respirar normalmente.

Especialistas consideram que a recaída pode ter sido originada não por uma gripe e sim por causa de um agravamento do mal de Parkinson, que afeta o sistema nervoso central. A piora pode ter provocado espasmos nos músculos respiratórios e na laringe, causando problemas na deglutição.

As dificuldades e uma menor capacidade de movimento respiratório tornam a expectoração difícil, podendo ocasionar uma pneumopatia e problemas brônquio-pulmonares, além de outras infecções.

O médico Corrado Mann, que esteve presente às seis intervenções cirúrgicas sofridas pelo Papa no passado, afirmou há 15 dias que o Santo Padre poderia ter ''uma recaída no futuro''.

João Paulo II foi internado durante dez dias no início de fevereiro, devido a problemas respiratórios.