O Estado de S. Paulo, n. 48021, 09/04/2025. Metrópole, p. A18

BC diz que brasileiros gastam até R$ 30 bi por mês com bets
Cícero Cotrim
Célia Froufe

 

 

O secretário executivo do Banco Central, Rogério Lucca, disse ontem que a regulamentação das empresas de aposta online, as chamadas bets, permitiu à autarquia chegar a dados mais precisos a respeito do fluxo de dinheiro empregado nessas apostas. A conclusão é de que, de janeiro a março deste ano, esse montante ficou entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões por mês.

“Durante este ano, de janeiro a março, esse valor que a gente acompanha, que é feito de atividade, tira algo em torno de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões por mês, ratificando aquilo que a gente tinha estimado no fim do ano passado”, disse Lucca, durante uma participação na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, no Senado.

O secretário executivo do BC se referia a um estudo produzido pela instituição e que vem sendo atualizado com regularidade. O primeiro resultado teve como data-base agosto do ano passado e apontou gasto de R$ 20 bilhões. Sobre o aumento da inadimplência com o maior uso de sites de apostas, Lucca disse que há um consenso entre os participantes do mercado, ratificado também pelo BC, que é fato que a pessoa que aposta acaba prejudicando sua capacidade de fazer pagamentos.

Em funcionamento desde o início de novembro do ano passado, a CPI das Bets foi criada para investigar “a crescente influência dos jogos virtuais de apostas online no orçamento das famílias brasileiras”. O colegiado é presidido pelo senador Hiran Gonçalves (PP-RR) e tem a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) como relatora.

NEM CONSUMO, NEM POUPANÇA. Também ouvido ontem na CPI, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, repetiu que a instituição começou a investigar o segmento de bets porque, segundo ele, houve alta da renda das famílias, que não foi para o consumo nem para a poupança.

“Nossa porta de entrada foi o lado macroeconômico. Estávamos vendo a renda crescer, a renda das famílias cresceu muito nos últimos dois anos, um crescimento tanto em velocidade quanto em nível, historicamente mais elevado… Aí a gente percebia que existia um certo vazamento dessa renda: a gente não encontrava essa renda nem em consumo, nem em poupança”, explicou aos senadores.

O alerta do aumento das apostas pelo BC foi, portanto, para a questão econômica, de acordo com o presidente. “Fizemos um estudo antes mesmo de a atividade estar regulada, porque a gente estava percebendo que isso podia ter algum tipo de impacto.”

Do ponto de vista normativo, Galípolo enfatizou que a instituição está sempre aberta a participar e a trocar informações. Até porque, diz ele, o BC é autônomo, mas não isolado. “O Banco Central produz informações e essas informações têm de estar disponíveis para o Senado, para a Câmara dos Deputados, para a população em geral. Então, por isso que a gente sempre tenta dar tanta transparência.”

O presidente do BC explicou que o assunto não é específico da instituição. “Eu acho que ocorreu uma série de transformações no mercado. Essas transformações que geraram novos serviços ativos que o Banco Central tem de prestar à população.”

BAIXA RENDA. De acordo com o estudo especial do BC “Análise técnica sobre o mercado de apostas online no Brasil e o perfil dos apostadores”, publicado no ano passado, as famílias de baixa renda são as mais prejudicadas pela atividade das apostas esportivas. “É razoável supor que o apelo comercial do enriquecimento por meio de apostas seja mais

Estudo do BC aponta Famílias de baixa renda são as mais prejudicadas pela atividade das apostas esportivas

atraente para quem está em situação de vulnerabilidade financeira”, considerou o presidente do Banco Central, acrescentando que a instituição está atenta ao tema e ainda precisa de mais dados e tempo para que sejam avaliadas com maior robustez suas implicações para a economia, a estabilidade financeira e o bem-estar financeiro da população. •