Título: Encontros e desencontros
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2005, Internacional, p. A9

Presidentes da Rússia e dos EUA enaltecem acordo contra a proliferação mas debatem democracia durante entrevista coletiva

Os presidentes dos Estados Unidos, George Bush, e da Rússia, Vladimir Putin, anunciaram ontem após o encontro de cúpula em Bratislva, na Eslováquia, um acordo para conter a proliferação nuclear e trocaram declarações constrangedoras, em especial durante a entrevista coletiva, sobre a situação política russa, tema de críticas recentes de Washington. O encontro marca o fim da visita de cinco dias de Bush à Europa.

Em busca de pontos comuns com Putin, parceiro estratégico na guerra contra o terrorismo, o presidente americano afirmou que a reunião reforçou concordâncias em vez de diferenças.

- Concordamos em acelerar o desenvolvimento de acordos para garantir a segurança de armas e artefatos nucleares, em nossos países e no mundo - disse Bush. - Concordamos que o Irã não deve ter poderio militar atômico. Concordamos que a Coréia do Norte também não deve ter uma arma nuclear.

No entanto, lado a lado, em frente aos repórteres, as perguntas relativas às críticas de Bush sobre a tendência política à centralização do poder em Moscou mostraram o quanto o tema é sensível.

- A Rússia fez uma escolha pela democracia - afirmou Putin. - Esta é nossa escolha e não há volta. Qualquer retorno ao totalitarismo seria impossível.

Pressionado para cobrar uma postura mais liberal de Putin, ao mesmo tempo em que procura manter o presidente russo como aliado, Bush procurou amenizar o tema.

- É importante que as nações entendam o valor da democracia, do respeito à Lei, da proteção às minorias e do debate político - afirmou o presidente americano. - Quando toquei nesse assunto, de forma amigável e construtiva, tudo que posso afirmar é que Vladimir [Putin]disse: ''sim'' é ''sim'' quando falamos de valores que compartilhamos.

Apoiado pelo descontentamento da população russa com a interferência americanas nos assuntos internos de Moscou, Putin foi mais agressivo.

- Não vamos inventar um tipo de democracia russa. Estamos comprometidos com os princípios fundamentais - disse o presidente, que comparou o fim das eleições diretas para governador nas províncias russas com o Colégio Eleitoral nos EUA.

- Não é considerado antidemocrático, é? - perguntou.

Bush não deixou por menos ao tratar das revoluções democráticas nas ex-Repúblicas soviéticas, tema caro a Moscou.

- Recentemente, vimos fatos memoráveis na história da liberdade - disse o presidente americano. - A Revolução Rosa, na Geórgia, a Revolução Laranja, na Ucrânia, e agora a Revolução Roxa, no Iraque.

Durante o encontro de duas horas em um castelo medieval de Bratislava, coberta de neve e à margem do rio Danúbio, assessores afirmaram que um acordo foi negociado para conter o terrorismo convencional e nuclear, como também para restringir o acesso a mísseis antiaéreos. Uma das preocupações americanas era a venda de armas russas deste tipo à Síria, reclamada por Israel. O medo de americanos e israelenses é o de que o equipamento acabe nas mãos do Hisbolá, organização terrorista com base no Líbano.

A visita à Eslováquia e o encontro com Vladimir Putin foi a etapa final da viagem de Bush à Europa. O presidente esteve na Bélgica para reuniões com líderes da Otan - a aliança militar do Ocidente - e da União Européia. Esteve também na Alemanha, onde foi recebido pelo chanceler Gerhard Schröder.