Título: Testemunha fala sobre o crime
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2005, Rio, p. A13

Enquanto ecologistas e amigos prestavam ontem a última homenagem ao ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, um funcionário aposentado do estado, de 85 anos, lembra os últimos momentos de vida do ambientalista. O aposentado voltava da igreja Assembléia de Deus, na noite de terça-feira, acompanhado da mulher de 73 anos e a filha deficiente física, quando encontrou o ambientalista na Rua de Administração. Apressado, Júlio cumprimentou a família e seguiu na trilha para casa. - Quando Seu Júlio estava a quase 100 metros de distância, escutamos um único disparo. Estava escuro, não vimos nada. Apenas escutamos uma voz gritando ''Volta! Volta!'' para nós - conta o aposentado, que permaneceu parado por um certo tempo na rua e não viu ninguém atravessar o caminho.

O aposentado prestou depoimento na 58ª DP (Posse). Segundo o presidente da Associação de Moradores do Tinguá, Renato Ferreira, o ambientalista telefonou para ele na terça-feira, por volta das 16h, perguntado se haveria reunião. Cinco pessoas participaram do encontro para discutir projetos de educação e saúde.

- Seu Júlio estava tranqüilo e feliz. Morávamos na mesma rua, por isso dei carona para ele até um certo ponto da rua. Cheguei a escutar o tiro, mas pensei que era alguma armadilha para bicho - conta Renato.

Júlio encontrou o aposentado na rua logo depois de descer do carro de Renato.

O ambientalista foi baleado a curta distância, com um tiro de escopeta no olho direito. O chefe da Reserva Biológica do Tinguá, Luiz Henrique Santos Teixeira, acredita que o atirador estava escondido numa cachoeira.

- Foi um tiro frontal. Uma coisa estúpida - revolta-se.

Durante o enterro do ambientalista, o deputado federal Fernando Gabeira, que acompanhou as investigações da missionária americana Dorothy Stang, no Pará, sugeriu que a polícia investigue as últimas chamadas do celular de Júlio. No sepultamento também estiveram presentes os deputados estaduais André Correa, Carlos Minc e Alesandro Molon, além do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias.

Na cerimônia, o ambientalista foi homenageado por amigos e ecologistas com orações e discursos em favor do meio ambiente. O caixão foi coberto pelas bandeiras do Brasil, de Nova Iguaçu e da Cruz Vermelha. Cerca de 200 pessoas, muitas delas moradoras do Tinguá, acompanharam o enterro.