Título: Polícia busca dossiê feito por Júlio
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2005, Rio, p. A13

Família do ambientalista quer ficar afastada das investigações; presidente Lula cobra rigor na apuração do crime

Um suposto dossiê detalhando as ameaças sofridas pelo ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro Filho, 61 anos, assassinado na noite de terça-feira próximo à Reserva Biológica do Tinguá, em Nova Iguaçu, poderá ajudar a polícia nas investigações sobre o crime. O documento, que teria sido elaborado pelo ambientalista nos últimos 16 anos, está sendo procurado por agentes da Delegacia Regional da Polícia Federal de Nova Iguaçu. Os relatos teriam sido entregues a uma pessoa de confiança do ambientalista. Há suspeitas de que a morte esteja ligada a caçadores de animais silvestres e colhedores de palmitos na região. - Fazemos um apelo para que esta pessoa entregue o dossiê à polícia - diz a ambientalista Ytamalo Parintintis, integrante da ONG Guardiões Ecológicos da Mata Atlântica.

Júlio foi enterrado ontem no Cemitério de Ricardo de Albuquerque. O governo federal divulgou nota do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: ''Foi com tristeza e consternação que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a notícia da morte do ambientalista Dionísio Julio Ribeiro, a quem o país deve a mais profunda gratidão por sua luta pela preservação da natureza e pela criação da Reserva Biológica do Tinguá. O presidente determinou às autoridades responsáveis que atuem com rigor no sentido de elucidar o crime e punir os criminosos o mais rápido possível''.

Segundo ecologistas ligados à vítima, Seu Júlio, como era chamado, teria entregue o dossiê com as ameças para uma pessoa que não tem envolvimento com as questões ambientais da região. Uma outra hipótese é de que o documento esteja guardado na casa do ambientalista, na Rua da Administração, no Tinguá. Ontem, segundo o delegado Marcelo Bertolucci, responsável pela investigação do crime na Polícia Federal, agentes procuraram pelo dossiê na região do Tinguá.

- O dossiê escrito por Júlio foi uma maneira que ele encontrou de se precaver - disse Ytamala, acrescentado que desconhece o conteúdo do dossiê.

Segundo a ambientalista, na última sexta-feira, Seu Júlio recebeu uma carta com a seguinte ameaça: ''Abre o olho que a sua hora vai chegar''. Marise Oliveira, 50 anos, prima de Júlio, afirma que não sabia das ameaças nem do dossiê.

- A família prefere se manter distante das investigações. Queremos nos lembrar do Júlio como uma pessoa que amava a natureza - comentou.

O deputado Alessandro Molon, membro da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, considerou grave da denúncia da existência do dossiê.

- A informação tem que ser apurada. Se existir, deverá contribuir para as investigações.