Título: Planalto planeja tropa de choque no Congresso
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 20/02/2005, País, p. A2

Ministros podem retomar mandatos para ajudar governo a evitar novos vexames

BRASÍLIA - Durante a semana o governo pretende começar a colocar em prática as medidas discutidas nos últimos dias entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a coordenação política do Planalto, a fim de espantar a crise provocada pela derrota na eleição à presidência da Câmara. A palavra de ordem no governo é esquecer o passado e reaglutinar as forças políticas, em descompasso desde a proclamação da vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE), na terça-feira. Nesse sentido, uma reunião está sendo agendada para os próximos dias entre o presidente Lula, o PT e os líderes dos partidos da base aliada. Ministros do núcleo político julgam ser esse o momento propício para o presidente entrar pessoalmente em campo com o intuito de serenar os ânimos entre os governistas. A intenção inicial era promover um encontro apenas com o PT, na opinião de Lula o mais prejudicado com a derrota na Câmara. Mas a tese de um encontro mais amplo, com a participação de toda a bancada governista, começou a ganhar força na última sexta-feira.

Montar uma consistente tropa de choque na Câmara também é outra idéia que povoa a mente dos palacianos. Na avaliação de ministros, a fragilidade foi evidenciada durante eleição na Câmara, colocando em risco o projeto de reeleição do presidente Lula.

- Foi a maior derrota que vivi desde a minha prisão, em 1972 - corroborou o presidente do PT, José Genoíno.

Uma das idéias em estudo é remanejar um ministro-deputado para a Câmara durante as futuras alterações na Esplanada. O escolhido ficaria encarregado, junto com os líderes do governo e do PT, das costuras políticas na Casa. Por hora, os nomes mais comentados são Ricardo Berzoini (Trabalho), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Eunício Oliveira (Comunicações), nessa ordem. O mais cotado nas bolsas de apostas para reassumir o cargo de deputado, Berzoini, chegou a dar pistas na última semana de que poderia estar retornando ao Congresso. Em entrevista, disse que não defenderia a política econômica ''caso retornasse ao Legislativo''. A declaração, encarada no Planalto como a senha para o regresso de Berzoini à Câmara, provocou mal estar no Ministério da Fazenda.

O presidente teria sinalizado, no entanto, que a reforma ministerial deve permanecer em banho-maria até ''assentar a poeira no governo e no PT'', disse um ministro. Assim, a reforma deve esperar mais uns 10 dias.

A reforma consolidará o governo de coalizão, dividindo a responsabilidade com os aliados. O PP, por exemplo, deve ser agraciado com um pasta robusta de verba e cargos. Além de fortalecer o comando político na Câmara, o remanejamento poderia seria restabelecer o equilíbrio de forças entre Câmara e Senado, uma idéia do presidente. Hoje, o poder estaria concentrado nas mãos do presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL). Apesar de manter uma boa relação com o senador alagoano, Lula teme que o governo fique refém dele.

A punição ao dissidente petista, Virgílio Guimarães (PT-MG), também deve ficar em compasso de espera. Em reuniões no fim da última semana, depois da chegada de Lula do Suriname, os ministros ponderaram que uma punição a Virgílio nesse momento poderia abrir uma nova e desnecessária chaga no PT.