O GLOBO, n 32.321, 02/02/2022. Economia, p. 11
CORRIDA PELO DIAGNÓSTICO
Vitor da Costa, Luciana Casemiro e Bruno Rosa
Farmacêuticas contratam e ampliam turnos. Laboratórios reforçam aposta em tecnologia
O avanço da variante Ômicron lançou farmacêuticas e laboratórios a uma corrida de investimentos para atender à demanda. Com a aprovação pela Anvisa da venda de autotestes, fabricantes correm para adaptar linhas de produção e contratar funcionários para que o produto chegue nas prateleiras em cerca de um mês. As empresas de diagnóstico ampliam investimentos em tecnologia, pontos móveis, drive-thrue expandem espaços para ganhar maior capacidade de atendimento.
Segundo Carlos Gouvêa, presidente executivo da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), a demanda por testes rápidos deve alcançar quase dois milhões em um mês nas grandes redes de farmácias. Segundo ele, os primeiros autotestes chegarão ao consumidor entre o fim de fevereiro e o início de março, com preços de R $40 a R $75.
A Eco Diagnóstica protocolou na segunda-feira o pedido de registro do autoteste e já te vede fazer alterações no processo produtivo:
— Só neste ano, já foram contratadas 250 pessoas. A expectativa é que sejam contratadas mais cem quando começar a produção do autoteste. Hoje, a produção é manual. Queremos semi automatizar o fechamento da caixa com a colocação dos componentes— explica José Arthur Moreira, diretor comercial da empresa.
MAIS TURNOS DE PRODUÇÃO
No caso da Vyttra, o pedido de registro deve ser feito na próxima semana, quando forem concluídos testes de usabilidade, que medem o quanto o produto é adequado a leigos.
— Estamos aumentando a capacidade produtiva para que, se surgirem novas variantes e novos picos, estejamos preparados — disse o CEO da Vyttra, Rubens Freitas, acrescentando que teve dificuldade de encontrar alguns insumos importados. — Duplicamos o total de pessoas trabalhando na produção de testes rápidos e aumentamos a quantidade de turnos. Complementamos com importados, dado o pico da demanda, mas estamos investindo em capacidade produtiva para não importar.
A empresa investe em um vídeo para auxiliar o consumidor, que poderá ser acessado por meio de QR Code.
A MedLevensohn, que vai importar o produto, já finalizou tratativas comerciais com parceiros e aguarda a autorização da Anvisa. Segundo Anna Luiza Szuster, farmacêutica e diretora de Relações Internacionais, a empresa prepara remessa de dois milhões de autotestes para distribuição, que devem chegar com preços de R$59 a R$79. Em 2021, a MedLevensohn já havia expandido o Centro de Distribuição e Logística em Serra, no Espírito Santo, com investimento de mais de R $10 milhões. Isso elevou a capacidade de armazenagem em 90%.
DADOS E ‘MACHINE LEARNING’
A corrida não é só para fabricar autotestes. A partir da pandemia, as empresas investem em aumento da velocidade de resposta para exames e procedimentos e análise de problemas decorrentes do coronavírus. Na Dasa, dona de Bronstein e Alta Diagnóstica, foi criada uma base de dados com mais de cinco bilhões de informações que ajudam a enfrentar os impactos da Covid:
— Desenvolvemos um modelo de machine learning que detecta o grau de comprometimento pulmonar e ajuda a prever a evolução da doença. O investimento em tecnologia gera insights e cria soluções.
Temos aprendido muito com a Covid. Investimos no aumento da capacidade de processar exames. No início do ano, aumentamos as contratações para dar conta da demanda — disse Leonardo Vedolin, diretor geral da área Médica e de Cuidados Integrados, destacando aporte de R$ 1,5 bilhão em tecnologia em três anos.
Ele cita o desenvolvimento da plataforma de atendimento Nav, na qual é possível agendar exames, fazer consultas virtuais e check-in de atendimento físico, que deve ganhar mais funcionalidades:
— Antes da pandemia, a digitalização era zero. Hoje, em algumas unidades, chega a 100%. A plataforma ajuda a cortar desperdício ao evitar a redundância de exames.
Segundo a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), os investimentos em tecnologia cresceram de 50% a 80% em 2021 e podem ter chegado a R$ 1 bilhão no setor.
Segundo Marcelo Lorecin, CEO da Shift, hub de tecnologia de medicina diagnóstica, atualmente a maior demanda é por tecnologias que permitam maior agilidade na entrega dos resultados, com garantia de qualidade.
No Grupo Fleury, dono de Felippe Mattoso e Labs a+, o formato virtual de atendimento, com apps e WhatsApp, saltou de 5% dos clientes antes da pandemia para 30%. A meta é chegar a 50% nos próximos anos. A empresa fez parceria com a IBM para automatizar o atendimento e agilizar procedimentos nos postos de coleta.
— Os chatbots (robôs) respondem por até 70% a 80% das conversas. Com a IBM, a ideia é aumentar a customização e automação do atendimento. Há transações que podem ser automatizadas, como cancelamento de exames, segunda via da nota e resultado —explicou Patrícia Maeda, diretora executiva de Negócios e Comercial do Grupo Fleury.
A ciência de dados ganhou espaço na análise e resultado de exames, disse Edgar Gil Rizzatti, diretor executivo Médico, Técnico e de Negócios B2B do Grupo Fleury, que vai elevar em 65% a capacidade de análise do laboratório no Rio:
— Temos trabalhado em inserir cientistas de dados nas equipes. Estamos usando ferramentas de inteligência artificial com predição de resultado do teste de Covid com base em exames comuns como o hemograma, o que é importante diante da escassez de testes. O estudo será publicado, em breve, numa revista científica internacional.