Título: Miro vê ''terceiro turno'' na Câmara
Autor: Daniela Dariano
Fonte: Jornal do Brasil, 20/02/2005, País, p. A4
Recém-desembarcado no PT, o deputado federal Miro Teixeira (RJ) acredita que a vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE) para presidente da Câmara tem significado político muito maior do que a simples receptividade das ''inconvenientes'' propostas - aumento salarial, prorrogação de mandatos - feitas pelo novo chefe da Casa. O parlamentar que acaba de deixar o PPS comparou o recente pleito no Congresso a um terceiro turno das eleições presidenciais de 2002. A derrota do candidato governista, Luiz Eduardo Greenhalgh, representaria o - tardio ou duradouro - inconformismo de uma parte da Casa com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
- A Câmara é muito politizada. Não há 300 deputados que se mobilizem só pela promessa de mais verba de gabinete e aumento de salário. Há um grupo político que ainda não se conforma com a vitória do Lula. Querem controlar as prioridades das políticas públicas e travar as propostas do governo - analisa Miro, calculando que essa fatia do eleitorado de Severino tenha somado metade dos 300 votos depositados no presidente da Câmara.
Severino, lembra o petista, ''nunca passou dos 80 votos'', mas sua vitória não deve ser ''subestimada'', ensina.
- Ele ganhou porque, de alguma forma, representa o pensamento da maioria da Casa - avalia Miro, prevendo que, este ano, no Congresso, uma parcela das forças que apoiaram Severino ''vai querer relatar as medidas provisórias mais relevantes, dominar o fluxo de matéria de interesse ruralista''.
Será um ano de tensões, prenuncia o novo petista, citando os recentes conflitos urbanos - como o que resultou na morte de dois sem-teto em Goiânia esta semana - e rurais - a exemplo do que ocorre no Pará e culminou na morte da missionária americana Dorothy Stang há uma semana - e a mobilização de entidades empresariais contra o aumento de impostos.
Apesar de vislumbrar dificuldades para o governo, o deputado petista não vê surpresas no início desse terceiro ano da legislatura, que é ''historicamente'' de complicações. Miro Teixeira lembra que Severino representa agora, como presidente da Câmara, não só os que o escolheram, mas a instituição:
- Temos que olhar sem preconceito e nos aproximar dele para não permitir que ele seja pressionado por esse grupo do terceiro turno - planeja.
Empunhando a bandeira petista, Miro Teixeira admite ter ficado ''de cabeça inchada'' com a derrota de Greenhalgh (SP), que era seu candidato. Alega, no entanto, que o paulista não era um nome defendido pelo governo federal, apenas por ministros.
- Não sei quantificar o que aconteceu dentro de cada partido, mas, de qualquer forma, o Severino é da base - sustenta Miro, apontando como um feito do governo a ausência de denúncias, nessa eleição na Câmara, de uso da máquina para favorecer o candidato principal.