Título: BC indica fim da alta dos juros
Autor: Gabriela Valente
Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2005, Economia, p. A19

Copom diz que aceleração de preços diminuiu, mas taxa vai continuar elevada nos próximos meses

O Banco Central deu sinais ontem de que o aumento da taxa básica de juros (Selic), iniciado no ano passado, está perto do fim. Segundo o BC, o processo de aceleração da inflação se interrompeu e o ritmo da produção também deve ser menos intenso. Mesmo assim, na ata da reunião realizada na semana passada e divulgada ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) informa que a taxa de juros deverá permanecer alta por um longo período, praticamente descartando quedas no curto prazo. Na última semana, o Copom decidiu pela elevação da Selic para 18,75% ao ano.

''Embora essa decisão já traga a taxa de juros básica para nível próximo ao que, na avaliação do Copom, promoverá a convergência da inflação para a trajetória das metas, o Comitê entende que ainda não será possível dar por concluído, com esse movimento, o processo de ajuste iniciado em setembro de 2004'', diz o documento.

Para o Copom, desde o início do processo de ajuste do juro, houve uma melhora nas perspectivas de inflação, mesmo que a inflação corrente e seus núcleos permaneçam em níveis ainda incompatíveis com as metas. Estima-se que a desaceleração dos preços no atacado seja repassada para os preços ao consumidor. Além disso, o comitê espera que a sazonalidade positiva dos alimentos seja antecipada, provocando a queda nos preços do segmento.

Segundo os economistas do Bradesco, é um sinal de que o Copom planeja reduzir o aperto, mas prevêem um modesto aumento na taxa Selic em março, de 0,25 ponto percentual, para 19% ao ano. Depois disso, analisam, o juro deve seguir em estabilidade até julho e começar o processo de queda em agosto. A ata também pareceu mais otimista para o economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon.

- O documento trouxe uma sinalização de que há um cenário mais construtivo da inflação, refletindo que o aperto monetário está próximo do fim - diz ele, que também aposta em uma próxima elevação em março, para 19% ao ano.

A sinalização do Copom foi absorvida de forma positiva pelos investidores, levando a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ao sexto recorde do ano. O Ibovespa (53 ações mais negociadas) fechou em alta de 4,55% - o maior em nove meses - e cravou o maior patamar de sua história (28.436 pontos). O pregão movimentou R$ 2,553 bilhões, acima da média de janeiro (R$ 1,2 bilhão).

A perspectiva de fim do aumento do juro também ecoou no câmbio. O dólar fechou na maior alta percentual em quase nove meses - 1,50% -, cotado a R$ 2,633. A mexida no câmbio ocorre porque os bancos abandonam posições de venda no futuro, já que a cotação tende a subir com a saída de parte do capital especulativo atraído pelo juro alto.