Título: Mais de 330 mil no mercado informal
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2005, Brasília, p. D3

Quase 35% dos trabalhadores brasilienses não recolhem para a Previdência Social, revela pesquisa do IBGE

Quando Edilson Pereira Gomes, 27, deixou a cidade de Augustinópolis, no interior do Tocantins, e se mudou para Samambaia, há três anos, sem saber virou número. O vendedor ambulante entrou para as estatísticas e ajudou a fazer do Norte a região com maior número de migrantes para o Centro-Oeste (40,5% ou um contingente de quase 270 mil pessoas). Dados como esse fazem parte da Síntese de Indicadores Sociais 2004 , divulgada ontem pelo IBGE. Além de fazer parte das estatísticas da migração, o vendedor Edilson reforça outros números: o de trabalhadores sem carteira assinada. Dados da pesquisa revelam que 34,9% ou mais de 330 mil trabalhadores do DF não contribuem para a Previdência Social. Edilson, que chega a ganhar R$ 150 por dia com a venda de pulseiras gravadas, não se preocupa.

-Essa história de dar dinheiro para o governo para depois receber um salário mínimo de aposentadoria é ilusão. Prefiro trabalhar na correria(alusão às saídas rápidas provocadas pela chegada da polícia) e guardar dinheiro eu mesmo para quando ficar velho - acredita.

O levantamento, com base em dados de 2003, reúne informações que vão desde o número de residências com saneamento básico até o de divórcios por Estado. Mais que números frios, os dados permitem traçar um retrato do Brasil e do Distrito Federal, nos mais variados aspectos. A maior parte da pequisa não traz muitas surpresas. Diferenças antigas, como a desigualdade salarial entre homem e mulher, branco e negro, são apenas transcritas em porcentagem.

Segundo a pesquisa, uma pessoa negra ganha, no DF, em média 35% a menos do que uma branca de mesmo grau de escolaridade. Apesar de significativa, a diferença não surpreende o coordenador do Grupo de Estudos Afro-Brasileiros da UnB, professor Nelson Inocêncio.

- A menor remuneração do negro é o reflexo da idéia de competência da nossa sociedade. A cultura do racismo prega que o negro não é apto a trabalhar tão bem quanto o branco. Acredito que estamos em um processo transitório, com o racismo e a discriminação sendo discutidos em larga escala - explicou.