Título: Apetite maior nos anos 90
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 20/02/2005, Economia, p. A19

Tão difícil quanto pagar os impostos é descobrir quantos são. Nem a Receita sabe precisar o número de tributos que existem hoje no país, isso porque os impostos e taxas se multiplicam no âmbito estadual e municipal, um verdadeiro boom próprio da década de 90. O economista Paulo Rabello de Castro explica que até então o governo cobria seus gastos com a emissão de moeda e, nesse ponto, a inflação era uma perversa aliada.

- Agora, somos um país sério, mas não se criou uma seriedade nos gastos do governo. Já que não pode mais ser coberto com emissão de moeda, acelerou-se a arrecadação - explica, referindo-se ao aumento de um nível da faixa de 27% nos idos dos anos 90 para os 36% atuais.

Para o economista, a transferência de renda do setor privado para o governo leva à queda de produtividade da economia. Isso porque, como defende, o gasto do Estado tende a ser menos eficiente do que se cada cidadão escolhesse onde melhor alocar os seus recursos.

Rabello citou estudo de outro economista, o especialista em contas públicas Raul Velloso, para fundamentar seu argumento. De 1987 a 2003, o governo passou a ter mais gastos correntes e menos investimentos. Em 87, o percentual da receita despendido com os inativos era 7%, em 2003, foram 13%. Já os investimentos, no mesmo período, caíram de 16% da receita para 2%.

- O governo tornou-se serventuário dos gastos correntes, mas há de se convir que como despendê-los é uma escolha política. O governo pode optar por usar 90% da receita em gastos e 10% em investimentos ou, como agora, dividir em 98% e 2%.