O GLOBO, n 32.317, 29/01/2022. Economia, p. 15
Contas do governo federal têm o melhor resultado desde 2014
Manoel Ventura
Queda de 26,6% nas despesas em 2021 resultou em déficit de 0,4% do PIB, contra rombo histórico de 10% em 2020
As contas do governo federal fecharam 2021 com um rombo de R$ 35,1 bilhões, de acordo com dados divulgados ontem pelo Tesouro Nacional. Como antecipou O GLOBO, é o melhor resultado desde 2014. Desde então, as contas do governo central passaram a fechar com déficit todos os anos.
O número equivale a 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) e reverte um rombo equivalente a 10% do PIB em 2020. No auge dos efeitos econômicos da pandemia de Covid-19 e com as medidas compensatórias tomadas pelo governo, o rombo das contas públicas federais foi de R$ 743 bilhões em 2020, de longe o pior da História.
O dado refere-se ao que é chamado de governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) e considera a diferença entre as despesas e a arrecadação federal, sem levar em conta o pagamento dos juros da dívida pública.
ALTA DA ARRECADAÇÃO
O déficit menor reflete a alta de arrecadação causada pela melhora da economia e pela inflação, que fechou 2021 em 10,06%. Em termos reais, no acumulado no ano, a receita líquida cresceu 21,2%, em R$ 289,1 bilhões.
No ano passado, foi registrado o maior nível de arrecadação total, motivado pelo número também recorde dos recursos administrados pela Receita Federal.
Além disso, o governo federal reverteu uma série de medidas tomadas durante 2020, o que acabou por reduzir os gastos.
O auxílio emergencial, por exemplo, ficou menor —passando de R$ 600 para uma média de R$ 250 —e atendeu a menos pessoas. No total, a despesa total diminuiu 23,6%, ou R$ 522,2 bilhões.
— O Brasil conseguiu ter um desempenho extraordinário, como nós esperávamos. Muito se falou que foi a inflação, mas não foi. Por que quando fomos a 5.000% de inflação ao ano não tivemos aumento de arrecadação, resolvendo o problema das finanças públicas? Não é a inflação que resolve, é o controle das despesas — disse o ministro da Economia, Paulo Guedes.
MAIS CRESCIMENTO, MENOS INFLAÇÃO
O ministro ainda afirmou que o país crescerá neste ano e terá uma inflação mais baixa, porque o Banco Central já começou a subir os juros.
—Nossos críticos vão ter que fazer a revisão do crescimento para cima. O Brasil já está com juros reais positivos, enquanto bancos centrais no mundo inteiro estão dormindo no volante.
Guedes quer usar esses dados para mostrar que não há descontrole fiscal nem piora das contas do país:
—É a partir da avaliação da despesa que o esforço de contenção fiscal fica mais claro.
O resultado de 2021 ficou bem abaixo da meta oficial, que previa déficit de R$ 214 bilhões.