O GLOBO, n 32.317, 29/01/2022. Economia, p. 13
Brasil foi país onde mais se matou pessoas trans no mundo
Pelo menos 140 pessoas trans foram assassinadas no Brasil só em 2021, segundo o dossiê “Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras em 2021”, divulgado ontem pela Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), véspera do Dia da Visibilidade Trans.
“A cada 10 assassinatos de pessoas trans no mundo, quatro ocorreram no Brasil”, diz o relatório.
O número toma por base o projeto de pesquisa Trans Murder Monitoring (TMM) que monitora, coleta e analisa relatórios de homicídios de pessoas trans no mundo.
“Do total de 4.042 assassinatos catalogados (de 2009 a 2021), 1.549 foram no Brasil. Ou seja, sozinho, o país acumula 38,2% de todas as mortes de pessoas trans do mundo”, diz o relatório. Atrás do Brasil estão México e EUA.
Apesar de o Brasil ainda estar na primeira posição nessa estatística, o número de assassinatos diminuiu no país. Em 2020, houve mais 35 mortes. A média de assassinatos entre 2008, ano em que o levantamento de casos começou, e 2021, é de 123,8.
A idade média das vítimas é de 29,3 anos. Mais da metade tinha entre 18 e 29 anos. O dossiê mostra que 81% dos mortos eram travestis ou mulheres trans pretas e pardas.
De acordo com a Antra, estima-se que 13 anos é a idade média em que travestis e mulheres trans são expulsas da casa da família. “Isso torna essa população mais vulnerável e exposta a todos os tipos de violência, além de ser uma porta para a entrada na prostituição” , alerta o relatório.
Segundo o dossiê, 78% das pessoas trans e travestis assassinadas em 2021 eram profissionais do sexo.
Além da rejeição familiar, pessoas trans e travestis ainda sofrem exclusão escolar: segundo dados do Projeto Arco-Íris/Affro Reggae, apenas 0,02% estão na universidade, 72% não possuem o ensino médio e 56% nem o ensino fundamental. (Ana Beatriz Moda, estagiária sob supervisão de Carla Rocha)