O GLOBO, n 32.317, 29/01/2022. Economia, p. 14

Desemprego recua, porém renda é a menor desde 2012

Julia Noia e Gabriel Shinohara


Juros bancários chegam a 36,9% anuais, a maior taxa em seis anos

A taxa de desemprego recuou para 11,6% no trimestre encerrado em novembro de 2021, em relação ao trimestre anterior. No entanto, ainda há 12,4 milhões de pessoas em busca de trabalho, e o rendimento real do brasileiro voltou a cair, chegando ao menor valor da série histórica iniciada em 2012: R$ 2.444. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada ontem pelo IBGE.

A expectativa dos analistas é que o desemprego volte a subir este ano, como consequência das previsões de crescimento próximo a zero do Produto Interno Bruto (PIB). A taxa pode fechar 2022 em até 12,7%. A tendência da renda é continuar em queda. O resultado da Pnad mostra recuo de 4,5% frente ao trimestre anterior e de 11,4% em relação ao mesmo trimestre de 2020, quando o país ainda sentia mais fortemente os efeitos do isolamento social.

CARTEIRA ASSINADA SOBE

A recuperação do emprego aconteceu devido ao avanço da vacinação e à retomada da atividade econômica. A maior oferta de vagas veio de comércio e indústria. Embora esse resultado tenha sido puxado pelas contratações com carteira assinada, que cresceram 4%, no melhor resultado da série histórica, a informalidade continua alta, afirma Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE:

— Vemos que o emprego aponta para a consolidação da recuperação, em comparação com 2019, mas ainda estamos abaixo de estimativas nas vagas de carteira de trabalho, algumas atividades ainda não atingiram o período pré-pandemia.

A recuperação do mercado de trabalho ocorre pela abertura de vagas tanto no setor formal quanto no informal. Das 3,2 milhões de pessoas admitidas nos três meses até novembro, 43% foram para ocupações sem carteira assinada.

A informalidade atinge 38,6 milhões de brasileiros que trabalham sem carteira assinada, aos quais se somam 25,8 milhões de trabalhadores por conta própria, um nível recorde.

A alta informalidade puxa para baixo salários já corroídos pela inflação, que fechou 2021 acima de 10%. É mais um fator de pressão para reduzir a renda dos trabalhadores em 2022. O mercado já tem projeções de Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegando a 6%, estourando o teto da meta do Banco Central de 5%.

—Quando tem perspectiva de fraqueza na economia, vai ter menor utilização dos fatores de produção, o que leva a salários mais baixos. E a inflação está corroendo a renda real, junto com a incerteza —explica o estrategista-chefe da Modalmais, Felipe Sichel.

Os salários ficaram tão deprimidos, que mesmo com a entrada de 8,3 milhões de ocupados no mercado em um ano, a soma dos salários de todos os ocupados (a massa salarial) não cresceu frente ao ano passado.

ROTATIVO DE 249,6% AO ANO 

A queda acentuada da renda dos brasileiros contrasta com a elevação das taxas de juros cobradas por bancos e outras instituições financeiras. A taxa média teve em 2021 a maior alta em um ano desde 2015, chegando a 33,9% anuais em dezembro, segundo divulgou ontem o Banco Central. A alta foi de 8,4 pontos percentuais. Em 2020, os juros médios terminaram o ano em 25,5%.

 Os juros subiram tanto para pessoas físicas como para as empresas. No caso das pessoas físicas, as taxas médias ficaram em 45,1% ao ano, contra 37,2% no ano anterior. Para empresas, a alta chegou a 11,6% em dezembro de 2020 para 20% no fim de 2021.

Uma das modalidades que contribuíram para o aumento dos juros médios foi o cartão de crédito rotativo, a mais cara do mercado. 

Em janeiro de 2021, a taxa média cobrada pelos bancos estava em 329% e em dezembro chegou a 349,6% ao ano, o maior patamar desde agosto de 2017. 

Os juros do cheque especial, também uma das modalidades de crédito mais caras, subiram e ficaram em 127,6% ao ano e as concessões só subiram em 2021. De R$ 25,2 bilhões em janeiro para R$ 33,4 bilhões em dezembro.

Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito Financiamento e Investimentos (Acrefi), ressalta que os juros apenas acompanharam a alta no custo do dinheiro.

— Não vi um aumento fora de qualquer parâmetro normal, é basicamente um risco maior na margem e um aumento no custo do dinheiro — disse.