Título: Além do Fato: Estimulante para a violência
Autor: Márcio Mothé*
Fonte: Jornal do Brasil, 20/02/2005, Rio, p. A15

Até pouco tempo atrás era comum as pessoas não reconhecerem a existência de crack nos movimentos de venda de drogas no Rio. Segundo os pesquisadores, para não prejudicar o mercado da cocaína ou da maconha, a entrada do crack era proibida pelos próprios traficantes, justamente por ser uma droga mais barata e de potencial lesivo ainda maior. Todavia, tal fato não mais condiz com a realidade atual, haja visto o aumento significativo de prisões de traficantes e usuários dessa droga. Na busca constante da alucinação, os dependentes vêm buscando cada vez mais novas modalidades de drogas, ocasionando um novo panorama no submundo do narcotráfico. Nos últimos meses, entre a população de renda mais elevada, o consumo de drogas sintéticas, como ecstasy e LSD, aumentou assustadoramente, o que é comprovado pelos resultados obtidos em operações coordenadas pelo Ministério Público, pela quantidade de droga apreendida e pelo perfil dos novos traficantes.

Paralelamente à busca de outras drogas, para sustentar a lucratividade, os traficantes também buscam novos alvos, oferecendo novos produtos, a preços variados. Assim como o LSD líquido e outras drogas sintéticas, também é chegada a hora do crack, uma espécie de cocaína que pode ser fumada, e com um efeito devastador. Usuários paulistas bem conhecem o assunto e aqueles que conseguiram sobreviver ao vício podem testemunhar.

O MP, com a Coordenadoria de Justiça Terapêutica, em detrimento da aplicação de qualquer outra sanção, defende um tratamento eficaz e prematuro aos usuários. Uma equipe integrada de profissionais da área biopsicossocial auxilia, indicando o tipo e a duração do tratamento, de acordo com as necessidades dos dependentes. Porém, é necessário que a sociedade faça a sua parte.

Não passa mais de lenda a afirmativa da ausência do crack no Rio. É preciso que as pessoas tenham consciência da tomada urgente de providências para evitar a disseminação da droga, não só por parte das autoridades, mas dos usuários, financiadores do tráfico. Urge que as pessoas se conscientizem da relação direta do consumo das drogas com a violência, que aumentará significativamente com a entrada do crack, assim como tem ocorrido com os demais entorpecentes.

* Coordenador da Justiça Terapêutica do Ministério Público estadual