O GLOBO, n 32.317, 29/01/2022. Mundo, p. 15

Sem consenso, Itália faz sexta votação para presidente



Manobra da oposição foi considerada desleal pelos governistas, e definição do novo chefe de Estado pode levar mais alguns dias 

O Parlamento italiano realizou o quinto dia de votações ontem para tentar escolher o novo presidente do país, diante das disputas entre os principais grupos políticos para determinar um nome de consenso para suceder Sergio Mattarella, no cargo desde 2013. Ao todo, foram seis votações até agora — a última, no início da noite pelo horário local (tarde de ontem no Brasil), foi boicotada pelos parlamentares e representantes regionais após uma manobra conduzida pelo bloco de direita e vista como “desleal”.

Na primeira votação do dia, siglas como a Força Itália, de Silvio Berlusconi, e a Liga, de Matteo Salvini, apresentaram, mesmo sem consenso do colégio eleitoral, como de praxe, o nome da presidente do Senado, Elisabetta Casellati, uma católica ligada a Berlusconi e defensora de pautas conservadoras.

— Ela poderia ser a primeira mulher presidente. É o melhor nome possível e, atualmente, ocupa o segundo cargo mais importante do país depois da Presidência. É curioso que a esquerda tenha decidido pela abstenção —disse Salvini, em entrevista coletiva.

A manobra serviu apenas para incitar ainda mais as disputas. Caselatti recebeu 382 votos, bem menos do que os 505 necessários para chegar ao posto de chefe de Estado. A aliança acreditava ter, ao menos no papel, 450 votos, e torcia pelo apoio de dissidentes.

— Eles estão forçando a situação. Nós queremos um candidato de projeção, que esteja acima das partes [políticas], que seja de acordo e não imposto — disse o líder do antissistema Movimento Cinco Estrelas (M5S), Giuseppe Conte, à AFP. 

Considerado o posto mais importante da República italiana, a Presidência traz um mandato de sete anos e poderes consideráveis na resolução das recorrentes crises políticas no país — cabe ao chefe de Estado, por exemplo, confirmar o nome do primeiro-ministro e dissolver o Parlamento antes da convocação de novas eleições.