Correio Braziliense, n. 22642 18/03/2025. Economia, p. 7
Economia mundial mais lenta
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu a previsão de crescimento para a economia mundial no próximo biênio. De acordo com o relatório, publicado ontem, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global deve desacelerar de 3,2% em 2024, para 3,1% em 2025 e 3,0% em 2026.
O documento atribui essa desaceleração a “maiores barreiras comerciais em várias economias do G20 — grupo das 19 maiores economias do planeta, mais União Europeia e União Africana — o aumento da incerteza geopolítica e de políticas pesando sobre os investimentos e os gastos das famílias”, como razões para a redução das projeções.
No caso do Brasil, a estimativa passou de 2,3% para 2,1% em 2025 e foi reduzida de 1,9% para 1,4% em 2026. A desaceleração da economia foi atribuída à elevação de juros pelo Banco Central e por efeitos ao nível de atividade provocados pela alta de tarifas a aço e alumínio exportados aos Estados Unidos. “É esperado que a expansão no Brasil desacelere em relação ao seu recente ritmo rápido, pois o impacto do aperto da política monetária e das tarifas mais altas sobre as exportações de aço e alumínio para os Estados Unidos reduzirá o crescimento de 3,4% em 2024 para 2,1% em 2025 e 1,4% em 2026”, apontou o documento.
De acordo com a OCDE, as tarifas impostas pelos EUA e o consequente efeito na demanda global devem limitar a expansão econômica brasileira, que já enfrenta os desafios internos de inflação e restrições ao crédito. “Quando o governo aumenta tarifas sobre produtos importados, tudo fica mais caro. Isso gera inflação, e para controlar a inflação, o banco central precisa subir os juros”, explica o economista Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio. Num cenário em que, a partir de abril, os Estados Unidos aplicariam 25% de sobretaxas a todos os produtos importados, o crescimento norte-americano cairia ligeiramente para 2,2% este ano e 1,6%, em 2026, contra projeções anteriores de 2,4% e 2,1%, respectivamente, alerta a OCDE.
“A estratégia de Trump pode acabar prejudicando os próprios EUA. Ao dificultar o comércio, as empresas americanas pagam mais caro por insumos, perdem competitividade e podem contratar menos. Ou seja, em vez de fortalecer a economia, ele pode acabar enfraquecendo o crescimento e o emprego”, aponta Monteiro. Segundo ele, o problema não para por aí. “Se os EUA desacelerarem, o impacto se espalha pelo mundo, reduzindo comércio e investimentos globais. Para o Brasil, isso significa menos demanda por exportações, menos entrada de capital estrangeiro, o que pode pressionar o dólar e os juros”, disse.