O GLOBO, n 32.317, 29/01/2022. Economia, p. 15

Argentina fecha acordo de US$ 44,5 bilhões com o FMI



Ministro da Economia diz que recursos serão usados para quitar empréstimo feito pelo governo anterior. Congresso ainda terá de aprovar entendimento

A  Argentina e o Fundo Monetário Internacional (FMI) chegaram ontem a um acordo para reestruturar a dívida bilionária do país com a instituição. O acerto, anunciado em cadeia nacional pelo presidente argentino, Alberto Fernández, ainda terá de ser aprovado pelo Congresso e pela diretoria do Fundo. Serão US$ 44,5 bilhões, no 22º acordo entre o país e o FMI.

— Chegamos ao melhor acordo que podíamos conseguir —afirmou em entrevista coletiva o ministro da Economia argentino, Martín Guzmán.

A Argentina está mergulhada numa prolongada crise econômica e não tem recursos para honrar suas obrigações com o FMI, que concedeu um empréstimo de mais de US$ 40 bilhões ao país em 2018, durante o governo Mauricio Macri. Está em jogo justamente um novo cronograma de pagamento, após meses de atraso.

— Negociamos um financiamento equivalente ao valor do programa de stand-by acordado no governo anterior. Ou seja, em torno de US$ 44,5 bilhões. Tudo o que vai vencer daqui até o fim dos pagamentos do stand-by, mais o montante das amortizações de capital já realizadas em setembro e dezembro de 2021 —explicou Guzmán.

Ele disse ainda que o governo pagou uma parcela que vencia ontem, de US$ 718 milhões, e que outra prevista para terça-feira, de US$ 368 milhões, foi suspensa.

‘DIABO ESTÁ NOS DETALHES’

Guzmán informou também que o país se comprometeu com o Fundo a reduzir seu déficit fiscal para 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, com metas de 1,9% em 2023 e 2,5% em 2022.

No ano passado, mesmo com o PIB crescendo 10%, o déficit foi de 3%.

—Sofríamos com um problema, e agora temos uma solução — afirmou Fernández. —Seremos capazes de acessar novos financiamentos graças a esse acordo.

Em nota, o FMI disse ter alcançado um acordo “sobre políticas-chave”, incluindo a fiscal e a monetária, além da redução dos subsídios à energia, a fim de reduzir o déficit. 

—O diabo está nos detalhes, e há muitas coisas que ainda não sabemos —disse à Bloomberg Daniel Marx, ex-secretário de Finanças e fundador da consultoria Quantum Finanzas.

Entre os pontos a esclarecer estão como serão feitos os pagamentos do novo acordo. Guzmán não deu detalhes sobre como os recursos serão devolvidos ao FMI, o que começaria quatro anos e meio após a aprovação do programa e se estenderia por dez anos. O esquema de vencimentos está ainda sendo negociado com o Fundo.

O ministro disse também que foi acertada com o FMI uma redução gradual das ajudas do Banco Central ao Tesouro. Isso vai obrigar o governo a buscar financiamento no mercado de dívida local, já que o internacional continua fechado à Argentina, cujo risco-país supera os 1.800 pontos centesimais. Segundo o jornal La Nación, fontes do Ministério da Economia sinalizaram que o governo pode buscar recursos junto a outros organismos multilaterais, como o Banco Mundial.

Guzmán indicou ainda que, a fim de atrair investidores, a taxa básica de juros do país, hoje em torno de 40% ao ano, deve subir.

Já Fernández assegurou que não haverá “saltos de desvalorização” do peso argentino nem uma reforma trabalhista como contrapartida ao acordo. Disse ainda que não haverá imposição de corte de gastos públicos nem mudanças nas regras de aposentadoria.

—Tínhamos uma dívida impagável, que nos deixava sem presente e sem futuro. Agora, temos um acordo razoável, que vai nos permitir crescer e cumprir nossas obrigações —disse Fernández. (Com La Nación e agências)