O GLOBO, n 32.317, 29/01/2022. Saúde, p. 21
Rio e São Paulo podem ter atingido platô da Ômicron
Rodrigo de Souza e Constança Tatsh
Média de novos casos teve redução nas duas capitais. Para analistas, declínio é boa notícia, mas ainda requer cautela
Os números de casos de Covid-19 nas cidades do Rio e São Paulo podem apontar para o início do estágio de platô, que é quando a curva ascendente de contágio se estabiliza antes de começar a cair, dizem especialistas. Nos primeiros países onde a variante Ômicron se manifestou, houve uma explosão de transmissão do vírus seguida de uma queda igualmente súbita.
No Rio, houve uma redução de 45% no número de episódios de síndrome gripal identificados nos últimos 14 dias. Na semana de 9 a 15 de janeiro, o município confirmou 281.558 casos, o maior total semanal de toda a pandemia. Na semana seguinte, foram 154.293 diagnósticos realizados, informa o painel Covid-19 da prefeitura.
O declínio no número de novos casos foi acompanhado pela queda em outros indicadores. No mesmo período, a positividade dos testes de Covid foi de 46% para 44%, e agora se encontra na marca de 38%. Segundo o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, uma redução parecida foi observada no número de novos atendimentos diários nas unidades de saúde e no movimento dos centros de testagem.
—Alguns indicadores estão se estabilizando e outros entrando em queda. Ainda é cedo para afirmar, mas é possível que estejamos entrando na fase de declínio da Ômicron —diz Soranz.
Cenário semelhante é observado na cidade de São Paulo. Uma das primeiras a registrar a explosão provocada pela cepa, a capital paulista parece já ter ultrapassado o pico. Em novembro passado, a cidade tinha cerca de 600 casos diários de Covid-19, em média. Com a entrada da Ômicron no país, no final de dezembro, esse número começou a subir e, já no dia 27, passou dos mil casos diários.
Entre os dias 11 e 18 de janeiro, São Paulo teve média de casos acima dos 7 mil, com pico no dia 13, quando a média chegou a 8.240. Mas, nesta semana, a média ficou na faixa dos 4 mil casos diários, caindo de forma gradativa. No dia 26, o índice estava em 4.124.
Para o epidemiologista Diego Xavier, da Fiocruz, a hipótese de o Rio ter chegado a um platô da nova onda só deve ser confirmada ou descartada daqui a aproximadamente três semanas, com a gradativa atualização dos dados e a observação das evidências que surgirem até lá.
—É cedo, realmente, para dizermos que chegamos a um platô. Se temos pessoas na fila por um leito, ainda não podemos dizer que o contágio diminuiu — pontua.
Porém, as informações disponíveis sobre a cepa e dados de outros países indicam que ela pode ter, de fato, uma onda mais breve do que as demais.
Nos países em que a variante avançou primeiro, é possível notar que a curva ascendente de casos leva entre quatro e seis semanas e é muito acentuada. Depois, vem a queda também rápida.
—Do ponto de vista biológico, a tendência é essa. Com o aumento do contágio, todo mundo pega, e aí surgem muitos casos graves ao mesmo tempo. Mas, depois disso, você cria uma imunidade geral e então os casos começam a cair, porque o vírus não tem mais para onde correr —diz Xavier.
Por outro lado, internações e taxa de transmissão seguem em patamares elevados. No Rio, o número de internados há cerca de uma semana ultrapassou o recorde de hospitalizações simultâneas registrado durante a onda da Delta, em agosto.
REFLEXO ATRASADO
Em São Paulo, a taxa de ocupação de leitos para pacientes de Covid está em 69%, após a abertura de mais 150 leitos. Vale lembrar que, em comparação com o número de casos, as internações tendem a demorar um pouco mais a captar novas tendências, já que os infectados com quadros graves levam dias para manifestar necessidade de internação ou ter um desfecho clínico.