O GLOBO, n 32.289, 01/01/2022. Mundo, p. 24

Expectativa de vida cai na Rússia por mortes causadas por Covid-19

Evgenia Pismenaya


Novembro foi o mês com mais vítimas pela Covid na Rússia, aprofundando uma crise demográfica que o presidente Vladimir Putin descreve como uma ameaça ao futuro do país. Houve um recorde de 87.527 mortes associadas ao vírus no mês passado, segundo dados divulgados pelo Serviço Federal de Estatísticas (SFE) na noite de quinta. Foi um aumento de 16% em relação ao mês anterior, elevando o total para mais de 625 mil desde o início da pandemia.

—A expectativa de vida na Rússia regrediu em uma década —disse Vera Karpova, demógrafa da Universidade Estadual de Moscou, estimando que a redução seja superior a três anos, ficando em menos de 70. —A última vez que a expectativa de vida era de 70 anos foi em 2012.

Em 2019, a expectativa de vida no país era de 73,08 anos, de acordo com o Banco Mundial. Em 2020, caiu para 72,3.

O recorde de casos do mês passado na Rússia ocorreu em meio a uma taxa de vacinação teimosamente baixa, apesar da ampla disponibilidade de uma vacina doméstica gratuita. Isso antes mesmo de as autoridades relatarem qualquer presença significativa no país da variante Ômicron, muito mais infecciosa, que se espalhou pelos EUA e pela Europa e levou alguns governos a adotar novamente as restrições no convívio social.

AMEAÇA GEOPOLÍTICA 

Na semana passada, em sua entrevista coletiva de fim de ano, Putin disse que a queda na expectativa de vida era uma ameaça à posição geopolítica da Rússia e sua economia em meio a uma crescente escassez de mão de obra.

—Do ponto de vista humanístico e geopolítico, uma população de 146 milhões em um país territorialmente tão grande é completamente inadequada —disse Putin.

Em novembro, a mortalidade aumentou 17% em comparação com o mesmo mês do ano anterior, informou o serviço de notícias Interfax na noite de quinta, citando a vice-primeira-ministra Tatyana Golikova. Nos primeiros 29 dias de dezembro, a mortalidade caiu 19,6% em comparação com o mesmo período do mês passado, com a Covid-19 sendo a principal causa de morte, disse Golikova, citando dados preliminares.

A Rússia registrou 912 mortes causadas pela Covid-19 na quinta, a menor desde o início de outubro, informou o centro de estatísticas ontem. A nação divulga dados completos sobre fatalidades por pandemia com uma defasagem substancial. Os números de novembro foram 2,4 vezes maiores do que os cálculos diários divulgados pelo SFE.

O número de novas infecções diárias registradas na Rússia caiu quase pela metade em relação ao seu pico, no início de novembro, mesmo com a variante Ômicron empurrando a contagem de casos para níveis recordes em países como EUA, Reino Unido e França.

A cepa ainda não se tornou a dominante na Rússia, disse Anna Popova, chefe do órgão de vigilância de saúde pública do governo, em uma cúpula de líderes da Comunidade dos Estados Independentes em São Petersburgo na terça.

A alta contagem de mortes na Rússia aponta para um número maior de Covid-19 do que os totais revisados mostram, de acordo com Dmitry Kobak, pesquisador da Universidade de Tübingen, na Alemanha.

—Até o fim do ano, haverá bem mais de um milhão de vítimas da Covid desde o início da pandemia— disse. Embora pareça haver significativamente menos mortes em dezembro do que no mês passado, “haverá quase 700 mil em 2021” —completou.