Correio Braziliense, n. 22645, 21/03/2025. Política, p. 3

Denunciado por ataque a Marina


Deputadas denunciaram, ontem, o senador Plínio Valério (PSDB- AM) ao Conselho de Ética do Senado após o parlamentar afirmar ter tido vontade de enforcar a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva. Segundo as parlamentares, a fala do senador desqualifica o debate político, incita à violência e não pode ser relativizada.

“O teor de sua fala ultrapassa os limites da imunidade parlamentar, uma vez que não possui qualquer relação com sua atuação como representante do estado do Amazonas, mas, sim, um evidente caráter de violência de gênero”, afirma o documento assinado por 10 parlamentares. Na última sexta-feira, durante um evento da Fecomércio no estado do Amazonas, Valério falou sobre a sessão da CPI das ONGs e questionou: “Imagina vocês o que é ficar com a Marina seis horas e dez minutos sem ter vontade de enforcá-la?”.

Na denúncia enviada ao conselho, as deputadas afirmaram que a fala “não apenas minimiza e desqualifica a presença da ministra Marina Silva no cenário político, como também reforça um discurso de incitação à violência contra a mulher, um crime tipificado na legislação brasileira e que tem sido amplamente combatido, sobretudo no contexto da política nacional”.

O senador comentou sua fala na quarta-feira, dizendo que fez uma brincadeira. “Eu falei: ‘Imaginem vocês o que é ficar com a Marina por seis horas e 10 minutos sem ter vontade de enforcá-la’. Todo mundo riu, eu ri (...) Foi brincadeira. Se você perguntar, ‘você faria de novo?’ Não. Mas se me arrependo? Não. Foi uma brincadeira. Agora, o que me encanta é o Senado ficar sensibilizado com uma frase”, afirmou Valério.

O senador ainda disse que tratou Marina com “delicadeza” por ela ser “mulher, ministra, negra e frágil”. “Me acusar de machismo é até engraçado, o meu perfil está lá, é só olhar: eu fiquei viúvo, uma mulher, casei de novo, duas. Tenho três filhas, uma enteada, seis netas, três irmãs’, disse.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), criticou a fala do parlamentar e classificou a declaração como inadequada e agressiva. Para as deputadas, “o uso do termo ‘enforcá-la’ direcionado a uma mulher em um contexto de discordância política carrega uma carga simbólica extremamente grave, pois remete à supressão da voz feminina pelo uso da força, à tentativa de desqualificar e intimidar uma liderança política pelo simples fato de ser mulher”.

Janja e Gleisi

A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, também saiu em defesa de Marina e destacou o trabalho da ministra. “Uma mulher gigante, que um homem com a ignorância do senador Plínio Valério jamais vai conseguir enxergar. Sua fala carregada de ódio, misoginia e de um desconhecimento sem tamanho é um reflexo de sua pequenez. É esse comportamento masculino que mata nossas mulheres diariamente”, escreveu nas redes sociais. “Para ele, é difícil ouvir uma mulher tão inteligente falar durante seis horas; para nós é de doer ouvir seis segundos de asneiras vindo de sua boca.”

elações Institucionais, Gleisi Hoffmann, ofereceu palavras de solidariedade à ministra. “Isso é ainda mais grave quando os ataques partem de pessoas com responsabilidade institucional, como é o caso de parlamentares”, destacou. Gleisi defendeu que “além do repúdio da sociedade, é a punição desses crimes, conforme a lei, que pode estancar as manifestações de ódio e violência política que atingem as mulheres e a própria democracia”.

Marina respondeu na quartafeira ao senador, durante o programa Bom Dia, Ministro, da EBC (Empresa Brasil de Comunicação). “Quem brinca com a vida dos outros, ou ameaça a vida dos outros de brincadeira e rindo? Só psicopatas são capazes disso”, rebateu.