Título: Baixa das matérias-primas segura inflação
Autor: Grynbaum, Michael M.
Fonte: Jornal do Brasil, 16/09/2008, Tema do Dia, p. A2

SÃO PAULO

A maior aversão ao risco, que patrocina a alta recente do dólar, deve seguir pressionando a cotação da moeda americana nas próximas semanas. Só este mês, o dólar subiu mais de 10%, fechando ontem a R$ 1,813, após alta de 1,85% no dia. No entanto, os reflexos na inflação devem ficar contidos graças ao movimento de baixa no preço das commodities. A própria continuidade da recuperação do dólar é questionada por economistas. É quase unânime a opinião de que há espaço para a recuperação do real nos últimos meses do ano. Apesar da piora acentuada nos mercados globais com o colapso do Lehman Brothers, a expectativa de fechamento do dólar para dezembro fica entre R$ 1,60 e R$ 1,70.

Para o ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu Freitas Gomes, o diferencial entre os juros internos e externos vai ajudar.

¿ Com medo da recessão, os BCs mundiais estão cortando o juro e é possível que o Fed americano sinalize corte nas próximas reuniões, o que ajudará na recuperação do real ¿ explica o economista.

Além do crescimento das exportações, entre 2003 e 2007, os juros internos elevados ajudaram a atrair dólares para o Brasil.

O movimento atual de alta do dólar também é considerado insustentável pelo economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz.

¿ Esta pressão vai se manter apenas no curto prazo, por enquanto não vejo motivos para alterar a previsão de dólar no fim do ano entre R$ 1,60 e R$ 1,65.

Com uma estimativa de dólar um pouco mais alto, próxima de R$ 1,70, o estrategista-chefe do Credit Agricole Vladimir Caramaschi considera limitados os efeitos da crise no câmbio. Para ele, logo os fundamentos voltam a imperar e haverá alguma recuperação do real.

Ao menos por enquanto, os analistas não crêem em um reflexo do dólar em alta na inflação que pudesse provocar mudança na política monetária do BC.