Título: Para analistas, crise afetará os países em desenvolvimento
Autor: Grynbaum, Michael M.
Fonte: Jornal do Brasil, 16/09/2008, Tema do Dia, p. A2

A falência do Lehman Brothers deve prejudicar as economias em desenvolvimento que já enfrentam problemas devastadores. Descritos como descolados ou isolados de questões econômicas e financeiras globais até alguns meses atrás, os mercados emergentes foram afetados pelo impacto de aversão ao risco crescente, recuperação do dólar americano, preços de commodities mais baixos e conflitos políticos como a Guerra na Geórgia.

Mas as notícias de que o quarto maior banco de Wall Street, o Lehman Brothers, estava pedindo falência e a venda súbita do Merril Lynch para o Bank of America fizeram até mesmo os analistas mais céticos subitamente a reconhecerem que foram otimistas demais.

¿ Pensamos que alguns dos países europeus centrais iam ficar em apuros por conta própria com seus grandes déficits atuais nas contas ¿ disse Lars Christensen, estrategista de mercado emergente do Danske Bank. ¿ Se as maiores instituições financeiras do mundo não podem se sustentar sozinhas numa situação dessas, a coisa é muito pior do que pensávamos.

Os patrimônios emergentes perderam mais de 2% no mercado europeu, em baixa de quase 33% até agora, menor nível desde 2006.

Os analistas esperam um impacto maior em mercados individuais na medida em que o Lehman pede falência e vende posições num ambiente onde deve haver compradores entusiasmados mesmo com preços muito baixos.

O Lehman não foi um dos líderes mundiais em mercados emergentes, mas as suas posições poderiam ainda valer bilhões de dólares, dizem os analistas. Uma pesquisa da Euromoney mostrou que a participação deles no mercado de câmbio estrangeiro na Ásia subiu no ano passado. Mesmo em mercados menores, o impacto deles seria sério.

Medidas agressivas?

Em princípio, se o Lehman vendesse ações a um preço mais baixo num país emergente e depois as mudasse, isso poderia fazer o mercado subir, apesar de apenas por um curto período de tempo.

¿ Você poderia ter medidas muito agressivas em qualquer direção ¿ opina Jeff Chowdhry, presidente de equidades emergentes estrangeiras e coloniais.

Eles dizem que a especulação sobre onde elas deveriam estar deixaria o mercado volátil nos próximos dias e semanas até que ficasse claro que as ações foram liberadas. O estrategista de dívida do banco Commerz, Luis Costa, disse que os novos donos do Merrill Lynch também devem liberar algumas de suas ações, aumentando ainda mais o impacto.

¿ Esses caras eram muito ativos nos mercados da Europa Central e do Leste. Estamos falando de grandes livros que terão de ser fechados. Isso incluiria ações russas, por exemplo.

Mesmo depois da quebra do Lehman, dados da EPFR Global, com sede em Boston, mostraram fluxos de fundos de títulos e bônus de mercados emergentes de US$ 29,5 bilhões nos últimos três meses, maior desde 1995, com as retiradas aumentando na semana passada.

Os investidores liquidaram as posições em outro continente e trouxeram o dinheiro para casa, dando ao dólar americano um estímulo em relação a outras moedas globais. Isso por si só vai piorar a posição dos emergentes que pegam dinheiro emprestado.