Título: Bovespa amarga maior queda desde o 11 de Setembro
Autor: Grynbaum, Michael M.
Fonte: Jornal do Brasil, 16/09/2008, Tema do Dia, p. A2

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou ontem o pior tombo desde a data histórica de 11 de Setembro de 2001. A quebra do banco Lehman Brothers surpreendeu analistas e investidores e arrastou as bolsas de valores pelo mundo. A Bolsa brasileira desceu para o seu menor nível em pontos desde 16 de agosto de 2007.

¿ Todo mundo esperava que o Lehman encontrasse um comprador. O maior problema é com as contrapartes. Todos esses grandes bancos são muito ligados e provavelmente, alguns vão ter que colocar nos balanços perdas até maiores do que o esperado ¿ avalia Cristiano Souza, economista do banco Real.

Ibovespa

O termômetro da Bolsa paulista, o Ibovespa, despencou 7,59% e recuou para os 48.416 pontos. O giro financeiro foi de R$ 6,57 bilhões, inflado pelo vencimento de opções na Bolsa.

Opções são contratos que negociam direitos de compra ou venda de um ativo financeiro. O vencimento de ontem foi mais um sinal do pânico dos investidores: as opções mais exercidas foram os contratos de venda, principalmente de Petrobras, o papel mais negociado no mercado acionário brasileiro.

O dólar comercial foi cotado a R$ 1,808 na venda, num salto de 1,51% sobre a cotação de sexta-feira. A taxa de risco-país disparou quase 17% e marca 309 pontos.

¿ O mercado vai ser afetado porque aumenta a aversão a qualquer ativo que tenha um risco maior que o papel do Tesouro Americano. Nesse processo sofrem as commodities e as ações de mercados emergentes ¿ diz Cristiano.

O gerente da mesa de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, acredita que a cotação da moeda americana deve oscilar entre R$ 1,80 e R$ 1,85 nos próximos dias. Ele acredita que é cedo para pensar no dólar a R$ 2, sugerido por radicais do mercado financeiro. ¿ No ápice da crise, o dólar não chegou nesse patamar ¿ diz.

A derrocada das Bolsas mundiais começou pela manhã, com os mercados asiáticos. A Bolsa indiana despencou 5,4%, enquanto Taiwan perdeu 4,1%. Depois, contagiou os europeus e americanos. Em Londres, a Bolsa local caiu 3,92%, enquanto o francês retraiu 3,78% e Frankfurt perda de 2,74%.

Nos EUA, as Bolsas de Valores exibiram os piores números desde os ataques terroristas de 11 de setembro: o mundial influente índice Dow Jones retrocedeu 4,42% e o Nasdaq teve baixa de 3,59%.

Subprime

O anúncio do Lehman é mais um episódio da crise dos créditos subprime, que abala o sistema financeiro americano há cerca de um ano. Há semanas, o mercado segue o drama do banco de investimentos à procura de um comprador e ainda sob expectativa de uma operação de resgate do governo dos EUA, em moldes semelhantes ao ocorrido com a Fannie Mae e a Freddie Mac, gigantes do setor hipotecário.

As duas expectativas foram frustradas: a solução de mercado se perdeu, com a desistência dos potenciais compradores, primeiro, o banco coreano KDB, e depois, o britânico Barclays e neste fim de semana, a derradeira "pá de cal" foi jogada, com a indicação do governo americano de que não resgataria o banco de investimentos. Analistas temem pela seguradora AIG e pelo banco Washington Mutual.