Título: O 15/9 da economia mundial
Autor: Grynbaum, Michael M.
Fonte: Jornal do Brasil, 16/09/2008, Tema do Dia, p. A2

THE NEW YORK TIMES

Investidores entraram em pânico com a rápida mudança no cenário financeiro ontem quando o Estado de Nova York socorreu a seguradora American International Group (AIG), o Bank of America começou a incorporar o Merrill Lynch e o Lehman Brothers, o quarto maior banco dos EUA, com 158 de história, foi de vez para o buraco.

O índice Dow Jones despencou mais de 500 pontos, fechando em baixa de 4,4% ou 504,48 pontos. Em Wall Street, o índice da Standard & Poor 500 fechou em baixa de 4,6%, e o Nasdaq caiu 4,6%. Índices em Londres, Berlim, e Paris caíram 4% e quase 3% em Frankfurt. No Brasil, a Bovespa tombou 7,59%. A Bolsa de Nova York teve a sexta maior queda em pontos da sua história e a pior desde o 11 de Setembro de 2001.

O governador de Nova York, David Paterson, disse que o Estado permitirá que a AIG pegue emprestados US$ 20 bilhões de suas subsidiárias para melhorar sua liquidez. As ações da AIG caíram pela metade ontem, quando os investidores ficaram preocupados com o fato de a firma não ter capital suficiente para resistir a reduções na classificação dos débitos.

A AIG buscou um empréstimo de ligação (em curto prazo) de US$ 40 bilhões do Federal Reserve (Fed, banco central americano) como socorro, à medida que o plano de resgate que tinha planejado desmoronou. Em Washington, o presidente Bush tentou acalmar os investidores.

¿ No curto prazo, ajustes nos mercados financeiros podem ser dolorosos tanto para as pessoas preocupadas com seus investimentos quanto para os empregados das firmas afetadas. No longo prazo, estou confiante que nossos mercados de capital são flexíveis e elásticos, e podem lidar com esses ajustes ¿ disse Bush na Casa Branca.

Temendo um colapso de Wall Street, os candidatos à Casa Branca disputaram a primazia das reformas financeiras a partir de 2009. John McCain e Barack Obama trataram do tema depois de um fim de semana de notícias ruins.

Obama há tempos pede uma revisão das regras para Wall Street, atribuindo a crise das hipotecas subprime e outros problemas à falta de transparência e responsabilidade do sistema financeiro. McCain deu mais ênfase à necessidade de reformas no marco regulatório. Republicanos prometem regras mais duras para proteger a poupança dos cidadãos das turbulências em Wall Street.

O Fed disse que aceitaria uma disposição maior de garantia real em troca de grandes empréstimos para firmas de valores mobiliários. E um grupo de 10 bancos, que inclui JPMorgan Chase, Goldman Sachs e Citigroup, reuniu um fundo de US$ 70 bilhões para ajudar a assegurar a liquidez do mercado.

O secretário do Tesouro, Henry Paulson, disse que os consumidores devem continuar confiantes na estabilidade do sistema financeiro americano.

¿ É provável que haja um efeito dominó, à medida que outras empresas e indivíduos que dependiam do Lehman para seu financiamento sentirem os efeitos da sua dissolução ¿ disse Charles "Chuck" Tatelbaum, advogado especializado em concordatas e falências. ¿ Tudo isso é realmente assustador para a economia dos Estados Unidos.

Merrill Lynch

Em Nova York, Kenneth D. Lewis, presidente e executivo-chefe do Bank of America, explicou, durante uma teleconferência, porque queria pagar mais do que US$ 50 bilhões ou US$ 29 por ação para Merrill Lynch, cujas ações estavam em queda livre. As ações da Merrill subiram 11% para US$ 19, ainda significativamente abaixo do preço de compra. Lewis não queria arriscar perder a oportunidade de comprar a gigante de gerenciamento de fortunas por causa de uma oferta reduzida.

Mas um cavaleiro branco não apareceu no Lehman Brothers no fim de semana para salvá-lo. Paulson disse que não valia a pena pôr em risco o dinheiro dos contribuintes para salvar o banco. Outros compradores, como o Bank of America e Barclays da Grã-Bretanha, desistiram no fim de semana. Em sua petição na corte, Lehman disse que, como em 31 de maio, os bens do banco eram de US$ 639 bilhões e a dívida de US$ 613 bilhões. Ele listou o Citigroup entre seus maiores credores, com cerca de US$ 138 bilhões em títulos como em 2 de julho.

"Bombas financeiras"

Com o decorrer dos acontecimentos na segunda-feira, os negociadores em Wall Street tentaram se adaptar. Na Bolsa de Nova York, James Maguire, diretor-geral de Christopher Forbes, disse que os negociadores entraram em pânico.

¿ Há muito medo do desconhecido e de mais bombas financeiras ¿ conta Maguire.

¿ A confiança acabou ¿ analisa Yann Azuelos, gerente de fundos da Meeschaert, em Paris. ¿ Com o socorro à Fannie e à Freddie, achávamos que o pior tinha passado, mas agora sabemos que não.