Título: Cúpula da Unasul apóia Morales
Autor: Duarte, Joana
Fonte: Jornal do Brasil, 16/09/2008, Internacional, p. A21

Boliviano adverte para golpe, mas analistas interpretam como atuação em papel de vítima.

Nove dirigentes sul-americanos declararam apoio ao presidente da Bolívia, Evo Morales, durante a cúpula no Palácio La Moneda, em Santiago. Foi a primeira reunião extraordinária de chefes de Estado da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), convocada pela presidente do Chile, Michelle Bachelet ¿ líder pro tempore do bloco ¿ e teve como difícil missão encontrar uma solução pacífica para a crise política que assola a Bolívia.

Além de Morales e do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, participam da reunião a presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, Álvaro Uribe (Colômbia), Rafael Correa (Equador), Fernando Lugo (Paraguai), Tabaré Vázquez (Uruguai) e Hugo Chávez (Venezuela). O encontro durou seis horas, e transcorreu a portas fechadas.

À saída do encontro, Lula ressaltou que é preciso preservar a legitimidade do governo do presidente Evo Morares. Ao lembrar que a Bolívia passou recentemente por um referendo, no qual Morales saiu vitorioso, Lula afirmou que é preciso criticar "qualquer tentativa de golpe e de quebra da constitucionalidade" naquele país.

¿ A Bolívia é um país pobre, que precisa de tranqüilidade para se redemocratizar ¿ destacou Lula.

Antes da reunião, ainda ao chegar ao aeroporto de Santiago, o presidente boliviano agradeceu a presença dos dirigentes e deixou claro que trataria como "golpe de Estado" a ação dos governadores de oposição contra seu governo.

¿ Venho aqui para explicar aos presidentes da América do Sul sobre um golpe de Estado civil formado nos últimos dias ¿ disse.

Seguindo o tom conspiratório, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, reiterou sua denúncia de que a crise que afeta a Bolívia é fruto de um complô "do governo imperialista" dos Estados Unidos.

No entanto, Roberto Laserna, diretor do Centro de Estudos da Realidade Econômica e Social, na Bolívia, não vê indícios de que a oposição planeje tirar Morales do poder à força.

¿ Os opositores não estão pedindo para Morales renunciar, simplesmente querem ver sinais de abertura. Creio que essas suspeitas são infundadas ¿ disse.

Ontem pela manhã Laserna já vaticinava a estratégia que Chávez usaria para transformar a reunião em um ataque contra os EUA. Todavia, o analista passava otimismo ao garantir que a cúpula não cairia "nessa armadilha", acrescentando que os líderes vizinhos são oriundos de "democracias muito mais maduras", o que os levaria ao bom senso.

¿ Acredito que a reunião foi construtiva por culminar com uma declaração para fortalecer a reconstrução da Bolívia. Mas espero que se ponha um freio na prepotência de Morales ¿ disse.

Para Luserna, o tema mais contencioso das negociações ainda são as concessões sobre a Constituição.

Mas Rene Martinez, deputado do partido Movimento ao Socialismo (MAS), de Morales, confirmou uma estratégia de golpe, definida com participação dos governadores oposicionistas e da embaixada americana.

Segundo o professor da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, Enrique Eduardo Záles, os presidentes Morales e Chávez usam o tema de golpe para serem vistos como vítimas ao pedir o apoio dos líderes sul-americanos.