Título: Na reta final, governo faz força-tarefa por Greenhalgh
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 11/02/2005, País, p. A2

Ministros e líderes começam hoje esforço para eleger petista na Câmara

Ministros e líderes governistas iniciam o dia de hoje empenhados até a medula na candidatura do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). Um café da manhã na residência oficial do presidente João Paulo Cunha (PT-SP) vai abrir o esforço concentrado para o fim de semana, na tentativa de garantir a vitória de Greenhalgh ainda em primeiro turno. Até o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, pouco afeito às articulações políticas, procurou ontem o deputado José Carlos Aleluia (BA) em busca de apoio do pefelista, caso o pesadelo do segundo turno se transforme em realidade.

A estratégia de Greenhalgh também ficou bastante clara durante debate realizado ontem na rádio CBN, com Aleluia e o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG). Todos os ataques foram direcionados a Virgílio, o candidato avulso petista. Greenhalgh foi duro ao criticar o encontro do petista mineiro com o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, e a decisão de manter sua candidatura, apesar da decisão de dezembro da bancada.

- Você não é o candidato do PT, perdeu para mim nas prévias e ainda escreveu uma carta me desejando boa sorte. Além disso, eu jamais permitiria que o Garotinho fizesse críticas ao governo federal da forma como fez - atacou Greenhalgh.

Virgílio respirou fundo e mostrou que está de fato disposto a brigar. Declarou que não é responsável pela opinião de quem o apóia e confirmou que vai manter o diálogo com todos os setores, inclusive com a oposição.

- Minha vitória será a vitória de todos. Estranho é o fato de o Greenhalgh também ter procurado o Garotinho e não saber explicar as razões do encontro - devolveu Virgílio.

Greenhalgh alegou que foi tratar de assuntos relativos a verbas do Orçamento destinadas ao Rio de Janeiro. Assistindo de camarote à briga de foice entre os petistas, o deputado José Carlos Aleluia jogou uma pitada de dendê no caldeirão fervente.

- Minha posição é institucional, peço apoio a quem eu encontro. Mas não pedirei apoio ao Garotinho - ironizou.

O pefelista passou a ser cortejado insistentemente pela cúpula palaciana. Na semana passada, conversou longamente com o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). Também foi assediado pelo presidente nacional do PT, José Genoino (SP), e pelo chefe da Casa Civil, ministro, José Dirceu. Apesar dos apelos, protocolou ontem sua candidatura e garante que só pensará em composição caso fique de fora do segundo turno das eleições para a presidência da Casa.

- Não há por que eu desistir. Desistiria se quisesse negociar algum cargo na Mesa. Mas não quero - frisou.

A matemática de votos está confusa. Greenhalgh aposta em vitória no primeiro turno, enquanto os demais concorrentes apostam que vão para o segundo turno contra o candidato oficial do PT. Até mesmo o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que garante ter pelo menos 227 votos. Severino esbarrou ontem em Aleluia nas escadarias do Congresso e não se fez de rogado.

- Aleluia, eu espero que você me apóie no segundo turno. Se você avançar na disputa, saiba que a recíproca será verdadeira - pediu Severino.

O pefelista cutucou:

- Com certeza. Mas fique tranqüilo: eu estarei no segundo turno.

O PSDB, que não apresentou candidato, tende a apoiar Greenhalgh, por ser o candidato oficial do PT, maior partido da Casa. No entanto, segundo o líder do partido, Custódio Mattos (MG), a reunião da bancada para fechar questão acontecerá apenas na próxima segunda, horas antes da eleição. Até lá, os tucanos esperam que haja uma demonstração inequívoca de que Greenhalgh é o candidato do PT.

Ontem, Greenhalgh recebeu o apoio do PDT, dono de uma bancada de 16 parlamentares. Foi pessoalmente à reunião da Executiva pedetista e chegou a ser saudado pelo presidente do partido, Carlos Lupi, como o ''futuro presidente da Câmara''. Em rápido discurso, Greenhalgh disse que sua trajetória política se assemelhava à do trabalhismo. E acrescentou que esperava contar com o apoio do PDT ''em nome da proporcionalidade e do respeito aos acordos na Câmara''.

- Passo a passo, estamos chegando lá. Só ficarei tranqüilo após a apuração, mas vou para a eleição com a esperança e a confiança na vitória em primeiro turno - afirmou.