O Estado de S. Paulo, n. 48023, 11/04/2025. Política, p. A12

PF confisca armas, dinheiro e carro em ação que mira prefeito de Sorocaba
Rayssa Motta
Fausto Macedo
Juliano Galisi
Hugo Henud

A Polícia Federal apreendeu dinheiro, armas e um carro de luxo, ontem, durante operação que mirou o prefeito de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga (Republicanos), por suspeita de desvios de recursos da Saúde. Os maços de dinheiro estavam em cofres e caixas de papelão lacradas. Nas caixas, havia R$ 863,8 mil. O dinheiro nos cofres não havia sido contabilizado até a noite de ontem.

Foram autorizados 28 mandados de busca e apreensão em diversos endereços, incluindo o gabinete e a residência de Manga. No TikTok, o prefeito publicou vídeo ironizando a operação: “Acharam algumas coisas aqui em casa: bolo de cenoura, Nutella e o Pokémon que meu filho tanto ama”. Ao Estadão, ele afirmou que todas as contratações firmadas pela prefeitura seguem ritos técnicos, com aprovação da Controladoria e da Procuradoria municipal, e ressaltou que suas contas foram aprovadas pelo Tribunal de Contas nos anos de 2021 e 2022. A prefeitura de Sorocaba disse colaborar com as autoridades.

As caixas de papelão contendo dinheiro estavam no carro de um dos investigados, ligado à uma entidade religiosa, na capital paulista. Ele é apontado como operador financeiro do suposto esquema e, segundo a PF, fazia movimentações financeiras e pagamentos de contas de outros investigados.

A Justiça autorizou o sequestro de bens dos alvos da operação até o limite de R$ 20 milhões. A PF apura, desde 2022, indícios de fraudes na contratação de uma organização social (OS) para administrar unidades de saúde da prefeitura. O inquérito mira operações suspeitas de lavagem de dinheiro, como depósitos em espécie, pagamento de boletos e negociações imobiliárias.

‘TIKTOKER’.

Manga ganhou notoriedade nas redes sociais com vídeos virais sobre projetos de sua gestão e ficou conhecido como “prefeito tiktoker”. Eleito pela primeira vez em 2012, para o cargo de vereador pelo PP, é formado em Marketing e foi gerente de uma concessionária de carros. Em 2016, reelegeu-se vereador pelo DEM (hoje União Brasil).

Na eleição municipal seguinte, em 2020, foi escolhido pelos eleitores como prefeito de Sorocaba, já pelo Republicanos. No ano passado, foi reeleito em primeiro turno.

DEFESA.

Procurado pela reportagem, Manga negou irregularidades. “Eu só assino (contratos) depois que passa por todo o processo: licitação, jurídico e parecer do procurador”, afirmou. O prefeito também disse que não teve acesso ao conteúdo completo do processo, mas declarou que está tranquilo. Para ele, a operação de ontem tem “motivação política”.

Os advogados de Manga afirmaram que a ação da PF foi “desnecessária e abusiva” e não há qualquer elemento que possa relacionar o prefeito a atos ilícitos. “A Polícia Federal tenta proceder a ilegal ‘pesca probatória’ para investigar a pessoa, o que é vedado por nossa legislação.”

A prefeitura de Sorocaba declarou, em nota, que há “plena colaboração com as autoridades, para que todos os fatos sejam devidamente esclarecidos o mais brevemente possível.”