Correio Braziliense, n. 22649, 25/03/2025. Negócios, p. 8
Inflação pode surpreender
Raphael Pati
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, demonstrou estar confiante com a trajetória dos preços no Brasil e destacou que todos podem se “surpreender positivamente” com a inflação deste ano.
O chefe da equipe econômica atribuiu as expectativas ao comportamento do câmbio. “Até em virtude do que a geopolítica está nos reservando, que penso que é o oposto do que está sendo projetado”, disse durante um evento promovido ontem pelo jornal Valor Econômico, em São Paulo.
“O dólar se fortaleceu muito no ano passado no mundo inteiro, mais um pouco no Brasil, agora este ano começa a acomodar em uma patamar mais ou menos condizente com os nossos pares, ainda está um pouco fora, então eu não acredito que essa má surpresa que tivemos no ano passado vai se repetir para o Brasil”, acrescentou o ministro.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros da economia, a Selic, para 14,25% ao ano, em um movimento para conter a inflação no país, que em 2024 acumulou 4,83% nos 12 meses do ano. Segundo Haddad, o cenário macroeconômico deve favorecer as projeções para este ano, além de auxiliar o trabalho do Banco Central em conter a inflação pelo lado da política monetária.
Apesar disso, o ministro se esquivou ao tentar prever o patamar da Selic ao final do ano. “É difícil dizer, porque é até constrangedor fazer esse tipo de projeção”, disse. “O que eu entendo é que hoje nós temos alguma razão para otimismo neste ano. Não sei o que vai ser possível em termos de margem de manobra, grau de liberdade, não posso antecipar. Mas eu acredito que nós vamos ter uma margem de manobra um pouquinho maior do que está sendo previsto”, completou.
Arcabouço fiscal
Sobre a manutenção do arcabouço fiscal, aprovado em 2023, o ministro disse que não pretende mudar a “arquitetura” da regra, apesar de reconhecer que podem ser feitos ajustes, como o que ocorreu no ano passado, quando o governo decidiu “afrouxar” a meta. “Ninguém discorda que você vai ter que fazer ajustes na máquina. Você está pilotando um carro, você não vai até o seu destino sem parar em uma mecânica, em um posto de gasolina, você vai ter que fazer reparos na máquina para ela andar bem. Mas eu penso que, do ponto de vista da arquitetura, eu estou confortável com o modelo atual”, avaliou.
Haddad reforçou ainda que o governo continuará perseguindo as metas que foram estabelecidas no arcabouço e que o ambiente criado nos últimos dois anos tem rendido bons resultados. “Nós vamos perseguir (a meta), porque a gente entende que é necessário. Não estamos fazendo concessão teórica e política a ninguém. É uma convicção minha de que isso é muito importante e eu tenho o aval do presidente para perseguir, com as dificuldades que ele conhece, que não são pequenas”, concluiu.