Correio Braziliense, n. 22649, 25/03/2025. Cidades, p. 37

Manifestação na volta às aulas
Carlos Silva


A Universidade de Brasília (UnB) retornou às aulas ontem, com greve dos servidores técnico-administrativos e uma manifestação contra a ação de um grupo de estudantes que se identificam como sendo de direita apagarem mensagens e pichações consideradas de esquerda, em espaços acadêmicos do Câmpus Darcy Ribeiro.

O ato foi organizado por entidades estudantis e centros acadêmicos, que classificaram a intervenção como vandalismo e intimidação. Com cartazes e palavras de ordem contra o conservadorismo e o que chamam de avanço da extrema-direita dentro da universidade, como “A UnB é do povo” e “Sem anistia pra fascista”, os manifestantes denunciaram o que chamam de “ataques da extrema-direita” e cobraram da administração da universidade medidas mais rígidas para evitar novos episódios. “Não se trata apenas de remover pichações, mas de um ato político que busca silenciar e impor uma visão única na universidade”, afirmou o estudante de engenharia ambiental Pedro Neves, 19 anos, presente na manifestação.

O protesto ocorre em meio a um ambiente de crescente polarização dentro da UnB. Enquanto entidades estudantis denunciam a ação da última semana como um ataque à liberdade de expressão, os jovens de direita argumentam que apenas buscaram “limpar” o campus e combater o que consideram discursos de ódio e vandalismo ideológico. Luiz Felipe Silva Rodrigues, 21, estudante de ciência política e representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE), explicou que a manifestação surgiu no objetivo de defender a universidade contra o que chamou de “ataques dos fascistas e da extrema-direita”. “Aqui a gente está com o objetivo único de mostrar que a Universidade de Brasília produz ciência, que ela produz cultura, que ela produz conhecimento”, afirmou. O estudante destacou a união de diversos setores da instituição no ato. “É fundamental estarmos juntos nesse momento. Devemos mostrar que a universidade não vai abrir espaço para fascistas”, reforçou.

O coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (SintFub), Maurício Sabino, afirmou que a manifestação foi uma resposta direta à ação de grupos de direita na instituição. Segundo ele, o ato teve como objetivo reforçar o compro misso da comunidade acadêmica com a liberdade de pensamento e a produção de conhecimento. “A extrema-direita tem uma política de depreciar, caluniar e desmerecer a universidade. A UnB não é lugar de fascista. Desenvolvem todo esse discurso contra o comunismo, o anticristianismo etc., mas, na verdade, querem tolher a liberdade dentro da universidade”, enfatizou.

A reitoria da UnB já havia emitido uma nota repudiando a ação do grupo de direita e reforçando seu compromisso com a diversidade e a liberdade de expressão. No entanto, os manifestantes afirmam que a resposta institucional ainda é insuficiente e pedem mais segurança para evitar novas ofensivas contra os espaços estudantis.

 O grupo de direita, por sua vez, nega qualquer intenção de intimidação e alega que apenas realizou um ato de “limpeza”, removendo mensagens que consideravam ofensivas. Eles também haviam planejado novas ações no câmpus, incluindo uma intervenção prevista para esta segunda-feira.

Durante o ato, a Polícia Militar (PMDF) interveio com o uso de spray de pimenta para conter um confronto iminente entre dois grupos de manifestantes. Segundo a corporação, a ação foi necessária devido à troca de empurrões e hostilidades entre os indivíduos, que se recusaram a registrar queixa um contra o outro, após as agressões.  Ao Correio, a UnB afirmou que não se pronunciará sobre o ocorrido ontem.

Paralisação

Segundo a UnB, 41.035 alunos de graduação, 4.971 de mestrado, 3.830 de doutorado e 445 de residência retornaram ontem à instituição. O número de docentes ativos é de 2.600. O início do ano letivo da UnB também foi marcado pela greve dos servidores técnico-administrativos, que paralisaram suas atividades na última quinta-feira. A greve foi aprovada em assembleia-geral do sindicato da categoria (Sintfub), em 11 de fevereiro, e reivindica o cumprimento efetivo da sentença relativa ao pagamento do índice de 26,05% do salário,pagodesde1989e,pordiversas vezes,ameaçado.Desde2019,ovalor estaria congelado.

Ontem, a reitora da UnB, Rozana Naves, deu boas-vindas aos alunos e comentou sobre a paralisação. “Iniciamos este primeiro semestre letivo de 2025 em meio à greve dos servidores técnico-administrativos, colaboradores essenciais para todas as rotinas universitárias que se colocam em mobilização justa e legítima. Seguimos trabalhando para que, mesmo diante dos desafios atuais, a UnB continue sendo um espaço de excelência em ensino, pesquisa e extensão, comprometida com o diálogo e o respeito à comunidade”, afirmou.