O Estado de S. Paulo, n. 48023, 11/04/2025. Política, p. A6
Presidente da Câmara resiste a ‘faca no pescoço’
Marcelo de Moraes
Pressionado nas últimas semanas pela bancada bolsonarista para colocar em pauta o projeto de anistia para os acusados pelos atos golpistas, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), articulou sua estratégia de reação. Com o apoio do governo e de setores expressivos do Centrão, Motta estabeleceu nos últimos dias uma agenda de prioridades para a Câmara.
Ele criou comissões especiais para discutir temas como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda; o Plano Nacional de Educação; o projeto que discute o uso de Inteligência Artificial; e a renegociação das dívidas previdenciárias dos municípios. Também distribuiu para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) a PEC da Segurança enviada pelo governo.
OBSTRUÇÃO. Com isso, Motta e seus aliados conseguiram fazer com que os bolsonaristas recuassem da estratégia de obstrução dos trabalhos do plenário e das comissões técnicas da Câmara. A estratégia teve pouca efetividade na semana passada, mas serviu para irritar integrantes dos partidos de centro, que ameaçaram votar contra a anistia.
Os líderes do centro também não gostaram das falas do deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), que lidera a bancada do PL. Na visão desses parlamentares, ele teria passado do ponto, cobrando apoio para que a anistia fosse votada em regime de urgência. O risco do isolamento da bancada, com geração de antipatia, provocou a reformulação da estratégia.
Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), já tinham deixado claro que enxergavam outras prioridades para o Congresso nesse momento.
No último fim de semana, os ataques ao presidente da Câmara durante o protesto bolsonarista em São Paulo tornaram o desconforto ainda maior. A principal queixa é de que já havia diálogo aberto para discutir a melhor forma de tratar a questão da anistia ou da redução de penas. Mas a estratégia, que já é chamada no Congresso de “faca no pescoço”, acabou dificultando a discussão.
Ao mesmo tempo, a agenda estabelecida por Motta e pelos líderes partidários oferece oportunidades para parlamentares importantes trabalharem temas de interesse da sociedade e romperem a polarização que permeia o Congresso. •