O GLOBO, n 32.322, 03/02/2022. Política, p. 8
Dirigentes de MDB e PSDB começam a discutir federação
Gustavo Schmitt e Sérgio Roxo
Disputas regionais e candidaturas à Presidência podem dificultar acerto
As direções do PSDB e do MDB deram início ontem às discussões para a formação de uma federação partidária que reúna as duas legendas. A chance de a união vingar, por ora, é considerada remota em ambas as siglas por causa de impasses nos estados e na campanha presidencial, que teriam que ser resolvidos em dois meses.
O MDB lançou a senadora Simone Tebet ao Planalto, enquanto os tucanos têm o governador paulista João Doria, vencedor das prévias da legenda.
Presidente do MDB, Baleia Rossi fez questão de frisar que precisará consultar os estados antes de dar prosseguimentos às negociações. “Tive hoje uma conversa inicial sobre formar uma federação com o PSDB. Preciso ouvir as bancadas e os diretórios estaduais”, escreveu nas redes sociais.
Dentro do MDB, a possibilidade de o acordo vingar é vista com ceticismo. Historicamente, o partido enfrenta divisões regionais. Os diretórios do Nordeste, por exemplo, são alinhados com o PT. Nesta semana, o senador Renan Calheiros (AL) se reuniu com Lula em São Paulo e defendeu que a sigla apoie o petista caso não tenha um candidato competitivo ao Planalto.
Em dezembro, o MDB lançou a pré-candidatura de Tebet. Ela, porém, ainda patina nas pesquisas de intenção de voto. Em São Paulo, o partido faz parte do governo de João Doria.
LIGAÇÃO HISTÓRICA
Lideranças tucanas também consideram que os entraves regionais tornam o acordo muito difícil. Dentro do PSDB, a avaliação é que o interesse maior de um eventual acordo é do grupo de Doria, que tenta dar musculatura para a sua candidatura presidencial.
O PSDB surgiu em 1988 de uma dissidência do antigo PMDB. Lideranças que formariam o PSDB, como Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro e Mário Covas, se mostravam incomodadas com o domínio que o então governador de São Paulo, Orestes Quércia, exercia sobre o partido.
As federações precisam ser viabilizadas até o início de abril, seis meses antes das eleições. Os partidos ainda tentam dilatar o prazo, mas o assunto será julgado pelo Supremo Tribunal Federal. As siglas que formarem a federação terão que atuar juntas por quatro anos e em todas as eleições, inclusive as municipais de 2024. Políticos avaliam que é difícil tratar de alianças com tanta antecedência, o que pode ser um entrave para negociações do tipo.
O PSDB aprovou, há duas semanas, negociar uma federação com o Cidadania, que, por sua vez, tem conversas abertas também com Podemos, PDT e o próprio MDB.
Na esquerda, o PT tenta formar uma federação com PSB, PCdoB e PV. Petistas e socialistas ainda precisam aparar arestas relacionadas aos candidatos em alguns estados, principalmente em São Paulo, onde os dois partidos consideram ter nomes fortes na disputa.
O PSOL já aprovou discussões sobre formar federações com Rede e PCdoB.