Correio Braziliense, n. 22650, 26/03/2025. Política, p. 7
Tecnologia impulsiona crescimento
Raphael Pati
Responsáveis por praticamente metade de todas as exportações brasileiras, os produtos agropecuários tiveram um relevante crescimento de produção nas últimas décadas. Para o pesquisador e economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) José Eustáquio Vieira, uma parte substancial desse avanço é consequência da importação de novas tecnologias e métodos científicos inovadores. “O que faz a produção crescer não é a terra em si, mas a tecnologia. Havia a discussão de como o Brasil ia fazer a produção crescer.
Havia aqueles que pensavam que a distribuição de terras ia fazer a produção crescer, mas havia aqueles que acreditavam no investimento em ciência e tecnologia”, explicou o pesquisador durante o CB Fórum.
Em meio às discussões sobre os ganhos ou riscos que o Brasil pode ter com os investimentos estrangeiros no agro nacional, o pesquisador considera que a abertura do mercado nacional para tecnologias de fora possibilitou que o país multiplicasse em 10 vezes a produção de alimentos desde a década de 1970 e expandisse as áreas de produção para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Atualmente, o agro representa um terço do PIB, 25% dos empregos e 50% de todas as exportações do país.
Por conta disso, embora o economista considere que é necessário preservar determinadas áreas, como fronteiras e o bioma amazônico, ele considera que uma flexibilização na lei atual que restringe a compra de terras por estrangeiros pode ser benéfica para a produção brasileira, visto que a maior parte dos insumos depende mais de fatores tecnológicos do que de terras ou mão de obra para se expandir.
O especialista cita a insegurança jurídica no setor como um entrave para o investimento. Ainda hoje prevalece A Lei 5.709, de 1971, que restringe a venda de terras para pessoas físicas e jurídicas do exterior. A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 342, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), questiona essa lei.
Evolução
Para o pesquisador, é necessário considerar que o agronegócio no Brasil no século XXI é muito diferente do que existia há 50 anos. Além da evolução tecnológica, o aumento da participação das exportações no agro brasileiro, ao contrário do que se imaginava, não prejudicou a segurança alimentar no país, de acordo com o especialista. Pelo contrário, enquanto as exportações de soja cresceram de 3,7 milhões de toneladas, em 1990, para 97,4 milhões de toneladas, em 2022, no mesmo período o consumo per capita no Brasil passou de 94,6 kg por habitante para 252,4 kg/habitante.
“O maior programa de redistribuição de renda que o Brasil fez foi a redução do preço da cesta básica de 1970 até hoje, algo em torno de 75%, segundo alguns estudos que já fizemos”, destacou Vieira. “Muito se fala que a compra de terras por estrangeiros pode prejudicar a segurança alimentar. Quanto mais nós exportamos, maior é o consumo per capita no país, isso serve para soja, milho, trigo, grãos, em geral, ou seja, quanto mais exportarmos, maior vai ser a segurança alimentar no nosso país”, acrescentou.