O Estado de S. Paulo, n. 48020, 08/04/2025. Política, p. A9
Ex-aliado acusa secretária do PT de exigir desvio de verba
Vinícius Valfré
A secretária nacional de Mulheres do PT, Anne Moura, foi gravada por um ex-aliado cobrando dele que recursos públicos de um projeto de capacitação profissional de jovens fossem desviados para a campanha eleitoral dela, em 2024.
A pasta, controlada por Luiz Marinho (PT), informou que pediu esclarecimentos à ONG e suspendeu o repasse de novos recursos “até que seja finalizada a apuração e análise das informações”. Anne Moura disse que nunca praticou nada ilegal e que o ex-aliado quer prejudicar a imagem dela ( mais informações nesta página).
A ONG Instituto de Articulação de Juventude da Amazônia (Iaja), fundada e controlada por Anne, vai receber R$ 1,2 milhão do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para oferecer cursos de qualificação profissional para 750 estudantes. A parceria foi assinada em setembro.
“Eu quero falar do projeto nosso, do MTE. Nós precisamos saber como que... Eu preciso de dinheiro. De forma objetiva: eu preciso de dinheiro. Estamos prestes a ganhar essa eleição, só que a gente precisa saber como a gente vai fazer isso”, afirma a dirigente do PT nacional na gravação a que o Estadão teve acesso.
A conversa foi gravada por Marcos Rodrigues, ex-presidente do Iaja e um antigo aliado de Anne Moura. Eles romperam em dezembro. Rodrigues afirma que operava, a mando da secretária do PT, um esquema de desvios de verbas e de finalidades na ONG em benefício dela. No diálogo, Anne Moura perguntou sobre os salários que seriam pagos ao coordenador-geral e para a coordenadora adjunta do projeto e disse que os valores deveriam ser revertidos para a campanha.
“Esse dinheiro já pode ser recebido? Agora, essa primeira parcela? Então vamos acelerar isso aí que isso já me ajuda muito. Eu tô contando os centavos disso aqui. Eu preciso ganhar essa eleição. O nível de perseguição está muito grande. Não podemos desperdiçar nada, nós vamos ter que ganhar essa eleição.”
O então presidente da ONG respondeu que não poderia “direcionar todo o valor” da primeira parcela recebida porque “tem um trabalho que foi feito”. “Mas eu só preciso agora, depois não vou precisar. Eu só preciso agora. O momento que eu mais preciso da minha vida inteira é agora. Depois não vou precisar. Esse que é o problema. E é agora mesmo, antes de chegar a eleição. Por isso que eu tô te falando... Se já pode pagar, já paga”, afirmou a dirigente petista.
‘NADA NOS BOLSOS’. Marcos Rodrigues respondeu dizendo acreditar que em poucos dias o dinheiro seria depositado e ele poderia fazer o direcionamento. “Muito bom, já paga, já paga. E discute para mim qual a forma que chega o dinheiro. Me mande todo o dinheiro possível. Para ganhar a eleição. Não tenho alternativa, não to colocando nada nos bolsos. Eu já estou devendo 1 milhão e 100 mil dessa eleição, do tamanho que tá. Essa eleição cresceu, está muito grande”, disse.
Marcos Rodrigues afirma que não transferiu o recurso porque tomou conhecimento de um “golpe” para tirá-lo do comando da ONG. •