Correio Braziliense, n. 22655, 31/03/2025. Política, p. 2
Atos nas ruas contra a anistia pelo 8 de janeiro
Raphael Pati
Movimentos e partidos de esquerda promoveram, ontem, em todo o país, protestos contra o projeto de lei que prevê a anistia aos presos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. As manifestações, organizadas pela Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo, e com apoio do PT, aconteceram em Brasília, São Paulo, Fortaleza, São Luís, Belo Horizonte, Belém, Recife e Curitiba.
Na capital, os atos concentraram-se no Eixão Norte. Com palavras de ordem como “Sem anistia”, “Ditadura nunca mais”, e “Vai ser preso” — em referência ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro, que tornou-se réu, na quarta-feira passada, por tramar um golpe de Estado em 2022. Um dos organizadores do evento, o músico Chico Nogueira, considera que o tema não deve ser pauta do Congresso.
“Por que essas pessoas, que incitaram os crimes do 8 de Janeiro, o quebra-quebra de 12 de dezembro de 2022 (data em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi diplomado no Tribunal Superior Eleitoral) e que chamaram as pessoas para a frente dos quartéis pedindo pelo golpe militar não vão responder pelos seus crimes?”, cobrou.
Participante da manifestação, a deputada federal Érika Kokay (PT-DF) disse que “o Brasil precisa reafirmar a democracia, e não fazer qualquer tipo de pacto que seria obscuro, como quem tentou apunhalar a nossa própria existência, a nossa concepção de Nação”.
Em São Paulo, a manifestação ocorreu na Avenida Paulista e reuniu em torno de 18 mil pessoas, de acordo com o método de contagem de multidões desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP). O público foi praticamente o mesmo que Bolsonaro levou, em 16 de março, em Copacabana, no ato que pediu anistia para o envolvidos no 8 de Janeiro.
O deputado federal Guilherme Boulos (PSol-SP) e o líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (PT-RJ), estavam à frente do evento. Os manifestantes fizeram uma caminhada, a partir da Praça Oswaldo Cruz, até a antiga sede do DOICodi, na Rua Tutóia, principal centro de tortura da ditadura na capital paulista. O ato também lembrou o golpe de 1964, que completa 61 anos hoje.
Também houve manifestação em Belo Horizonte, onde manifestantes com máscaras dos ministros Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), simularam a prisão de Bolsonaro, com um boneco do ex-presidente atrás das grades. No Recife, a caminhada saiu do Parque Treze de Maio e se encerrou no Ginásio Pernambucano.
De acordo com os organizadores das manifestações, haverá eventos até amanhã, em várias cidades, contra o projeto de lei da anistia aos extremistas do 8 de Janeiro e para lembrar o golpe militar de 1964. No Congresso, o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) deu chance “zero” para incluir o PL na pauta desta semana.