O GLOBO, n 32.323, 04/02/2022. Mundo, p. 18

Rússia começa manobras na Bielorrússia, perto da Ucrânia



Segundo a Otan, exercícios reúnem 30 mil militares e seriam os maiores em solo bielorrusso desde o fim da Guerra Fria

Em meio às tensões envolvendo supostos planos russos para invadir a Ucrânia, o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, participou ontem do início de uma série de exercícios militares na Bielorrússia, país aliado ao Kremlin e que também faz fronteira com o território ucraniano. As manobras, chamadas de “Resolução Aliada” e com término previsto para 20 de fevereiro, devem reunir 30 mil militares, além de blindados, tanques e aeronaves, e são apontadas pela Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, como o maior deslocamento russo em solo bielorrusso desde o fim da Guerra Fria no início dos anos 1990. A Rússia e a Bielorrússia não divulgaram números.

As imagens divulgadas pelo Ministério da Defesa da Bielorrússia mostraram manobras com batalhões de paraquedistas, disparos de tanques e desembarque de tropas em helicópteros, simulando ataques contra forças “inimigas”. Segundo a apresentação oficial dos exercícios, “os militares trabalharão para repelir agressões externas, combater o terrorismo, aprimorar suas habilidades de defesa das fronteiras, cortar canais de entrega de armas e encontrar e neutralizar falsos sabotadores”. Autoridades dos dois países não escondem que os exercícios são uma resposta ao que veem como aumento da presença da Otan na região.

—Faremos uma grande avaliação do que foi feito na fase de preparação de exercícios. Mas você notou, com razão, que a primeira etapa, a transferência de grandes agrupamentos de tropas e equipamentos, está em conclusão —afirmou Shoigu ao presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, citado pela Zvezda TV

PARA MOSCOU, PROVOCAÇÃO

No encontro, ele confirmou o apoio de Moscou a Minsk, revelou que os dois países farão cerca de 20 exercícios militares ao longo de 2022 e completou afirmando que a Rússia ajudaria o país a se opor à “linha destrutiva do Ocidente”

As manobras ocorrem no momento em que a Rússia tenta estabelecer um diálogo com o Ocidente para resolver o impasse relacionado à Ucrânia e suas próprias questões de segurança regional: o presidente Vladimir Putin é acusado de planejar uma invasão ao país vizinho ao concentrar cerca de 100 mil militares em áreas de fronteira. Ontem, os EUA disseram ter provas de que Moscou planeja produzir vídeos falsos de um ataque de ucranianos contra russos para que sirvam de pretexto para uma invasão do país vizinho.

Putin, por sua vez, vem negando as acusações e cobra compromissos dos países ocidentais. O principal deles é um veto à entrada da Ucrânia na Otan —Putin já delimitou que tal movimento seria uma “linha vermelha” que não deveria ser cruzada. A aliança rejeita a ideia, assim como a demanda para que todas as forças externas sejam retiradas dos países da Otan no Leste Europeu.

Países como EUA e o Reino Unido também prometeram impor sanções a Moscou se houver invasão, e anunciaram o envio de novos contingentes à região. Anteontem, o presidente americano, Joe Biden, anunciou o envio de mais 3 mil militares para Polônia, Alemanha e Romênia, um movimento que desagradou ao Kremlin. Os EUA já têm 64 mil soldados nos países da Otan na Europa.

—É óbvio que esses não são passos para amenizar as tensões, mas, sim, ações que elevam as tensões —afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. —Pedimos aos americanos para que parem de agravar a situação.

No caso da Bielorrússia, a Otan vê com preocupação as manobras por sua proximidade das fronteiras com a Ucrânia —a capital, Kiev, fica a cerca de 100km do país vizinho, e o posicionamento de forças russas sugere a possibilidade, em um cenário pessimista, de uma ofensiva mais ampla, algo que o Kremlin nega.

MINSK ACUSA USO DE DRONE

Por sua vez, a Chancelaria bielorrussa fez um protesto formal a Kiev relativo a uma suposta violação de sua fronteira por um drone ucraniano, em 24 de janeiro. O Ministério das Relações Exteriores ucraniano afirmou que as acusações não passam de provocação e que o país não usou nenhum drone na área.