O GLOBO, n 32.323, 04/02/2022. Política, p. 4
PT e PSB se acertam, mas Marília ainda é entrave
Sérgio Roxo
Estado crucial para aliança nacional, Pernambuco teve cenário definido por Lula e Paulo Câmara: petistas vão retirar nome ao governo em favor de Danilo Cabral, mas indicação de neta de Arraes ao Senado tem resistência. Acordo em SP segue distante
O PT abriu mão da candidatura ao governo de Pernambuco para apoiar o nome indicado pelo PSB no estado. Com a decisão, fica superado um dos obstáculos para a adesão dos socialistas à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto. Restam, porém, outros entraves. O principal deles está em São Paulo, onde o PT não abre mão de lançar o ex-prefeito Fernando Haddad e o PSB pretende lançar a candidatura do ex-governador Márcio França.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), se encontrou ontem em São Paulo com Lula para comunicar que o candidato de seu partido será o deputado federal Danilo Cabral. Filiado ao PSB desde os anos 1990, Cabral está em seu terceiro mandato na Câmara. Próximo a Eduardo Campos, morto num acidente aéreo em 2014, o parlamentar atuou como coordenador da campanha ao governo de Pernambuco em 2006.
No fim do ano passado, o PT lançou o senador Humberto Costa (CE) como pré-candidato em Pernambuco. O ex-prefeito de Recife Geraldo Júlio (PSB), que era visto como candidato natural, havia informado que não pretendia concorrer ao governo, deixando o posto vago.
— No acordo, o PSB exigiu o apoio do PT no estado. A direção nacional fez o acordo e não vamos ter candidato em Pernambuco — afirmou Costa, antes do encontro de Câmara e Lula.
Os petistas devem indicar o candidato ao Senado da chapa encabeçada por Cabral —Costa está no meio de mandato. A deputada Marília Arraes pleiteia o posto, mas há resistência ao seu nome dentro do PT. A pré-candidatura de Cabral está prevista para ser oficializada semana que vem.
— Vim conversar com o presidente Lula sobre a definição da candidatura em Pernambuco e ele referendou a nossa legitimidade para conduzir esse processo. Vamos apresentar o nome do candidato a governador nos próximos dias e a indicação do vice e do candidato ao Senado ocorrerá num segundo momento — disse Câmara após a reunião.
IMPASSE EM SÃO PAULO
Se a situação caminha para chegar a uma solução em Pernambuco, em São Paulo o impasse continua. Os petistas não estão dispostos a ceder aos apelos do PSB para uma adesão a Márcio França. Além do apoio à candidatura presidencial de Lula, os dois partidos também discutem a formação de uma federação, que incluiria ainda PCdoB e PV.
A formação da federação tem o apoio de Lula e a direção do PT, mas enfrenta resistência de uma ala do partido. No PSB, a bancada de deputados e os diretórios estaduais são amplamente favoráveis à união, mas lideranças como França, o prefeito de Recife, João Campos, e o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande são contra.
Pelas regras, caso se juntem, as siglas teriam que atuar como se fossem um único partido por quatro anos. Logo, só poderia ter um candidato por estado.
O PSB cobra apoio do PT também no Rio, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Acre. Os petistas vão apoiar Marcelo Freixo na disputa fluminense e a aliança para reeleição de Casagrande está encaminhada.
No Rio Grande do Sul, porém, PT lançou o deputado estadual Edegar Pretto, e o PSB, o ex-deputado Beto Albuquerque. Presidente do diretório gaúcho do PT, o deputado Paulo Pimenta descarta a aliança com os socialistas no estado.
— O PSB faz parte do governo Eduardo Leite e nós queremos ter um palanque de oposição no estado.
Mesmo que a federação não vingue, os partidos não descartam fazer uma aliança em torno da candidatura de Lula, inclusive com indicação do posto de vice pelo PSB. O mais cotado é o ex-governador Geraldo Alckmin. Sem a federação, os dois partidos podem ter candidatos adversários nos estados.