O GLOBO, n 32.323, 04/02/2022. Brasil, p. 10
Preso acusado de mandar queimar helicópteros do Ibama
Eduardo Gonçalves
Aparecido Naves Junior é suspeito de operar aviões que servem a garimpos ilegais na terra yanomami em Roraima
O empresário Aparecido Naves Junior foi preso na quarta-feira pela Polícia Federal, em Goiânia, como suspeito de ser o mandante do incêndio de dois helicópteros do Ibama em Manaus em 24 de janeiro. Naves Junior, de 35 anos, foi preso em sua mansão. Ele é a sexta pessoa presa após o ataque.
Naves Júnior é apontado por envolvimento com atividades de garimpo ilegal nas terras indígenas ianomâmi em Roraima. A investigação da PF concluiu que o incêndio dos helicópteros teria sido uma represália a ações de fiscalização e repressão ao garimpo ilegal no estado ao longo de 2021.
O empresário foi preso pela equipe que realiza a Operação Acauã, iniciada na semana passada. A Polícia Federal já havia detido o motorista suspeito de ter levado e retirado os responsáveis pelo incêndio, os dois homens filmados pulando o muro do Aeroclube do Amazonas para atear o fogo nos aparelhos e outras duas pessoas acusadas de serem intermediárias da encomenda e do pagamento pelo crime. Após as prisões, eles reconheceram Naves como o autor intelectual do ataque.
PLACA LEVOU A AUTORES
O incêndio foi provocado na madrugada do dia 24. Por volta das 4 horas, o sistema de vídeo de segurança do aeroclube registrou dois homens com um galão de combustível que, depois de pularem o muro, incendiaram os helicópteros. Os dois deixaram para trás o recipiente e o isqueiro e entraram apressados em um carro branco que os esperava perto do aeroclube.
No dia seguinte, agentes da PF bateram na porta do motorista do veículo e o prenderam, depois que três letras da placa, alguns amassos na lataria e um adesivo, captados pelas câmeras de segurança, ajudaram a identificar o carro. A partir daí, a polícia chegou ao nome dos dois autores do incêndio, Warlison Pereira e Arlen da Silva, e dois intermediários do esquema, Thiago Souza da Silva e Wisney Delmiro.
Os quatro entregaram o nome de Naves Júnior. O empresário mora numa mansão avaliada em R$ 2,1 milhões, onde guarda dois carros estimados em R$ 400 mil. De Goiânia, ele coordenava o transporte aéreo usado em garimpos ilegais nas terras ianomâmis, segundo a Polícia Federal.
Os dois helicópteros valiam juntos R$ 10 milhões, segundo a perícia policial. Os executores receberiam ao todo R$ 10 mil pelo incêndio dos aparelhos.
Desde o meio do ano passado, a PF e o Ibama fazem operações frequentes para desmantelar os garimpos na área ianomâmi, invadida durante a pandemia por mais de 20 mil garimpeiros. No fim de 2021, o governo federal anunciou que apreendeu mais de 111 aeronaves usadas na extração ilegal de minério em Roraima —22 delas foram destruídas no local em que foram descobertas. Além disso, as forças de segurança também inutilizaram mais de 80 pistas de pouso irregulares na mata fechada.
Como a região não tem estradas e os rios são longos e sinuosos, os aviões são o principal meio de transporte dos garimpos ilegais em Roraima, além de fonte de abastecimento de combustível e comida.
Na Receita Federal, Naves Júnior aparece como dono de quatro empresas de reciclagem de peças de moto e de carros, de resíduos e de sucata, uma delas com o nome de Eco Nacional. Os empreendimentos são avaliados em R$ 380 mil. Três deles funcionam em Goiás e um, em Minas Gerais.
A PF suspeita que as empresas eram fachada para a verdadeira fonte de lucro do empresário: a extração ilegal de ouro e cassiterita da Amazônia. A defesa de Naves Júnior não foi localizada pela reportagem para comentar as acusações.