O GLOBO, n 32.324, 05/02/2022.Política, p. 6

Bolsonaro: indicação de nome ao STF é mais importante que eleição

Dimitrius Dantas


Presidente tem associado sua reeleição à oportunidade de escolher ministros 

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que a indicação de dois ministros para o Supremo Tribunal Federal (STF) em 2023 será mais importante do que a eleição para presidente neste ano. Em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, o presidente admitiu que não é possível mudar o país “de uma hora para outra”. 

Em discursos e nas suas transmissões nas redes sociais, o presidente costuma associar a eleição para presidente à indicação de dois novos ministros para o Supremo.

— A gente está mudando, não dá para mudar de uma hora para a outra o curso de um transatlântico. Mais importante do que eleição para presidente são as duas vagas para o Supremo no ano que vem —disse Bolsonaro. 

A colunista do GLOBO Bela Megale revelou ontem que o presidente traçou uma estratégia para eleger o maior número possível de senadores nestas eleições. Segundo o presidente, a ideia é ter um apoio maior, caso seja reeleito, em novos embates contra ministros do STF. Bolsonaro ainda sonha com o impeachment de Alexandre de Moraes, ministro responsável pelas ações contra ele e seus apoiadores. 

Em agosto do ano passado, no auge da crise com o Judiciário, Bolsonaro apresentou ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), um pedido de impeachment de Moraes, mas a solicitação foi rejeitada por Pacheco. Bolsonaro também havia prometido representar contra o ministro Luís Roberto Barroso, mas não levou a medida adiante.

Aliados de Bolsonaro afirmam que o presidente vê o Senado como a única Casa com poder de “ter algum controle” sobre o Supremo dentro das quatro linhas da Constituição. Só o Senado pode abrir um processo de afastamento de ministros do STF. Esse fato, porém, nunca aconteceu.

No ano passado, o governo teve grande dificuldade na aprovação da indicação de André Mendonça para a Corte. A nomeação ficou meses parada na Comissão de Constituição e Justiça antes da aprovação no Plenário do Senado, também por uma margem apertada. 

Ao conversar com apoiadores no Alvorada, Bolsonaro ainda lamentou que alguns eleitores desejem o retorno do PT e também a rejeição que ele tem entre o eleitorado feminino.

— Segundo as pesquisas, as mulheres não votam em mim. Votam na esquerda. Pesquisa a gente não acredita. Mas se há reação por parte das mulheres, faz uma visitinha em Pacaraima, Boa Vista (em Roraima), nos abrigos, vê como estão as mulheres fugindo do paraíso socialista defendido pelo PT —disse Bolsonaro.