O GLOBO, n 32.324, 05/02/2022. Economia, p. 16
Petróleo supera US$ 93, a maior cotação em 7 anos
Crise entre Ucrânia e Rússia, uma das maiores produtoras do mundo, tem causado a alta. Além disso, demanda maior e menos produção por questões ambientais valorizam insumo, que subiu 15% só em janeiro e 60% em 2021
A cotação do petróleo não para de subir. Está em disparada, de novo, com impacto nos preços dos combustíveis, como gasolina, diesel e gás de cozinha. Ontem, os contratos futuros tiveram novas altas, renovando seus recordes desde 2014. O contrato para abril do petróleo tipo Brent subiu 2,4%, negociado a US$ 93,27 o barril, nível mais alto desde outubro de 2014. Já o contrato para março do petróleo tipo WTI avançou 2,3%, cotado a US$ 92,31 o barril, o maior desde setembro de 2014.
As máximas vêm após o petróleo já ter subido mais de 60% em 2021. Em janeiro, a alta foi de mais de 15%.
A matéria-prima completa a sétima semana seguida em alta em meio a tensões geopolíticas e ao aumento da demanda no Hemisfério Norte por causa do inverno. O Brent encerrou a semana com alta de 3,6%, enquanto o WTI registrou alta de 6,3% em seu rali mais longo desde outubro.
Os temores de uma invasão da Ucrânia pela Rússia cresceram e estão entre os motivos da alta do petróleo, mas há outras razões.
Analistas já projetam que o petróleo alcançará os US$ 100 por barril em pouco tempo, mesmo num momento em que carros elétricos se tornam mais populares e a pandemia persiste.
Grandes petroleiras que há até pouco tempo eram consideradas dinossauros por alguns analistas de mercado estão se valorizando, entregando seus melhores resultados financeiros em anos.
VALOR NEGATIVO NA PANDEMIA
A pandemia depreciou os preços da energia em geral em 2020, com a cotação do petróleo nos EUA tendo chegado a um valor negativo pela primeira vez por causa da demanda reprimida pelo lockdown imposto para conter a pandemia.
No entanto, os preços se recuperaram rapidamente e dispararam com a retomada das atividades econômicas e a maior demanda energética sem estoques suficientes.
Companhias de petróleo do Ocidente, em boa parte sob pressão de investidores e ativistas ambientais, estão produzindo menos do que antes da pandemia.
Executivos do setor dizem que estão tentando não cometer o mesmo erro do passado, quando produziram demais com o preço do barril em patamar alto, e os estoques acabaram derrubando a cotação.
Além disso, a produção foi limitada nos últimos meses em países como Equador, Cazaquistão e Líbia devido a desastres naturais e turbulências políticas.
Há mais demanda também. Com o avanço da vacinação, as pessoas estão ansiosas para fazer compras e viajar. E as preocupações sanitárias tornaram o carro mais atraente que o transporte público.
ACIMA DE US$ 100
Mas o fator mais crítico para a alta do petróleo é geopolítico. Uma potencial invasão da Ucrânia pela Rússia, uma das maiores produtoras de petróleo e gás do mundo, tem mantido esse mercado “no limite”, segundo Ben Cahill, membro sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington.
“Qualquer perturbação significativa pode levar os preços bem acima de US$ 100 por barril”, escreveu em um relatório recente.
A Rússia produz 10 milhões de barris por dia, um em cada dez consumidos diariamente no mundo. Uma interrupção de suas exportações para a Europa, sobretudo as de gás, pode gerar uma crise na economia do continente e uma alta do barril, já que não há capacidade de produção suficiente em outros países para substituir o petróleo russo no mercado.